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Adubo verde pode reduzir derrame de 388 ton/ano de herbicidas no solo de PG

Quantas vezes você passou por imensos campos esverdeados pela soja, amarelados pelas espigas de milho e dourados pelo trigo e se deu conta de como estes alimentos são cultivados? Certamente, esta pode nunca ter sido a sua pergunta, mas a forma de cultivo, com responsabilidade, é apenas uma das grandes preocupações de muitos agricultores e pesquisadores. Mas como garantir uma produtividade crescente nas lavouras e ao mesmo tempo trabalhar no conceito da sustentabilidade e segurança alimentar?

Há 30 anos pesquisando medidas para melhorar a capacidade produtiva nas terras agrícolas, priorizando as práticas culturais, Francisco Skora Neto, pesquisador na Área de Fitotecnia do Polo Regional do Instituto Agronômico do Iapar (Iapar) em Ponta Grossa, defende que o combate às plantas daninhas, que tanto prejuízo financeiro causa aos produtores, pode acontecer com o mínimo volume de herbicida, apenas com o uso correto de  adubos verdes.

Segundo ele, as coberturas podem ser feitas com espécies de inverno como aveia, azevém, centeio, nabo, ervilhaca, entre outras e também com variedades de verão como milheto, sorgo, crotalárias, girassol e demais, porém todas com a mesma eficiência em relação à diminuição das plantas daninhas que facilmente se adaptam aos solos, produzem sementes se disseminando rapidamente e podem se tornar resistentes aos herbicidas. A técnica consiste em utilizar os adubos verdes nos intervalos entre as culturas de renda, evitando o desenvolvimento e reprodução das plantas daninhas. O Sistema de Monitoramento do Comércio e Uso de Agrotóxicos do Estado do Paraná (Siagro), aponta que em 2015 o volume de agrotóxicos comercializado em Ponta Grossa correspondeu a 1.062 toneladas, sendo que 36,68% eram de herbicidas (388,6 toneladas).

Ao mesmo tempo em que o consumo de produtos químicos acontece de forma desenfreada, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), órgão do Ministério da Saúde, alerta para a relação dos mesmos com o câncer, devido à quantidade aplicada de agrotóxicos nas lavouras brasileiras equivaler a 5 kg por habitante, colocando o Brasil como o maior consumidor mundial de produtos químicos, com 1 milhão de toneladas só em 2009.

 

Francisco e Henrique em área com adubo verde onde o uso de herbicida foi reduzido em um terço. Ao fundo, área sem cobertura

Foto: Rodrigo Covolan

 

 

 

Herbicida

Uso desenfreado pode estar

ligado a facilidade de aplicação

Para o pesquisador, Francisco Skora Neto, é preciso que mais agricultores se conscientizem sobre a importância de reduzir a aplicação de agrotóxicos nas lavouras e os benefícios que isto poderia trazer à saúde do consumidor final.

Ele explica que, infelizmente, muitos produtores optam pelo uso exclusivo de herbicidas  pela facilidade de aplicação e seu efeito imediato. Muitos argumentam sobre o custo do adubo verde e algumas vezes a dificuldade em encontrar sementes como justificativa para não realizar a cobertura, mas numa escala de vantagens, com o tempo, os ganhos nas áreas com cobertura verde ficam evidentes.

Mas o quanto o agricultor está disposto a gastar com o adubo verde? Esta é uma pergunta que cabe a cada produtor responder, tendo em vista o mal que os venenos provocam à saúde e o que a cobertura verde representa em termos de sustentabilidade com o passar dos tempos.  “Se deixar a área em pousio [sem semeadura], mais difícil será para matar as plantas daninhas, mas se tiver cobertura verde à quantidade de herbicida usada será bem menor”, diz o pesquisador.

 

 

Daninhas

Rotação de cultura evita o banco de sementes

Além da cobertura verde, outra forma de evitar a formação do banco de sementes pelas plantas daninhas é a rotação das culturas, prática cultural imprescindível no Sistema Plantio Direto, porém que vem sendo deixada de lado por parte de alguns produtores rurais.

O pesquisador Francisco Skora Neto explica que a produção da mesma cultura o ano todo em determinada área facilita a adaptação das daninhas, por isto a importância do giro. Quanto mais planta invasora na lavoura, maior será o gasto do produtor com herbicida e maior será o desgaste do solo.

Conforme o pesquisador, quando não produzem sementes, as daninhas têm sua população reduzida a uma taxa em torno de 50% ao ano, portanto a necessidade de se voltar aos tempos passados e investir em práticas culturais como a rotação e os adubos verdes.

 

 

Pesquisador Francisco observa área com proliferação de daninhas

Foto: Rodrigo Covolan

 

Incentivo

Dia de Campo orienta sobre práticas de conservação

Apresentar as novas tecnologias e, principalmente, alertar para o uso de boas práticas no campo são ferramentas que compõem o quadro de objetivos dos dias de campo realizados, anualmente, pelo Polo Regional do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) de Ponta Grossa.

É nos encontros com os agricultores que os pesquisadores, Francisco Skora Neto e Henrique Luís da Silva (área de Transferência de Tecnologia), mostram para os participantes o desenvolvimento de áreas produtivas que recebem rotação de culturas e adubo verde e a proliferação de plantas invasoras em hectares tratados exclusivamente com herbicidas.

Uma das áreas em pesquisa no Iapar recebe cobertura verde a cada intervalo entre a colheita de uma cultura e o plantio da próxima. Nesta, o uso de herbicida foi reduzido em um terço, já na que fica ao lado e não recebe adubo verde o volume de veneno utilizado para matar o mato é bem maior a cada safra.

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