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Avaliação sem nota na escola?

Ao acordar num dos dias dessa semana e ler as notícias me deparei com uma que anunciava uma mudança na educação francesa, consistindo na abdicação do sistema de notas e na substituição desta por uma espécie de avaliação através de conceitos que levam em consideração o desenvolvimento dos estudantes e também suas posturas cidadãs, domínio da língua mãe, olhar do mundo, dentre outros fatores. É possível encontrar em países desenvolvidos esse modelo já, sendo o maior expoente dessa vertente educacional a famosa Escola da Ponte, em Portugal, e, aqui no Brasil, temos o exemplo das escolas do Projeto Âncora.

Mas, no meio de tanta discussão, nos perguntamos se o Brasil é capaz de ter uma educação organizada nesse modelo e, se o mesmo, seria bom para as estruturas sociais do nosso país. Um modelo como esse é pautado na liberdade e na flexibilidade até mesmo dos conteúdos a serem apresentados aos alunos, o que não temos experimentado até então. Como o foco é a uma educação útil aos educandos todo o conteúdo deve ser empregado em atividades diárias, propiciando assim a oportunidade dos alunos contemplarem, sem muita dificuldade, a utilidade dos ensinamentos e, deste modo, saber utilizá-los em seu cotidiano dentro da sociedade. Outro aspecto que visa mudança profunda é o afastamento do academicismo que temos visto desde o início da educação nacional, ou seja, o educar não para a vida e para a sociedade e sim para que o jovem possa adentrar a Universidade, como consequência dessa inclinação, temos uma sociedade que não sabe se respeitar e graduados que não sabem ler as questões, por mais simples que sejam, que o cercam no seu dia-a-dia.

Mas para que uma inovação realmente dê certo o primeiro passo está na formação dos profissionais que trabalharão na educação, do contrário o projeto se torna inviável, uma vez que as aulas devem ser diferenciadas e totalmente linkadas com fatores do cotidiano do aluno e do mundo que o cerca. Temos visto tantos professores que não são capazes de fazer a leitura do mundo e trazê-lo para dentro de suas aulas dando sentido e aplicabilidade dos conteúdos programáticos aos alunos. Se esse processo não ocorrer é impossível que os próprios alunos consigam enxergar a importância de se estar na escola, gerando assim desinteresse e evasão escolar, como temos assistidos há muito no sistema educacional nacional.

Mas há quem possa defender que os professores não tem tempo, mas vejo nisso uma inverdade, pelo menos para os professores do Estado paranaense. Aqui no Paraná, este ano o governo assinou uma lei, que passará a valer em sua totalidade em 2015, que cumpre com a lei federal 11.738/08 que prevê 1/3 das aulas sem contato com os alunos, as chamadas aulas-atividade, ou seja, o professor receberá para poder se planejar com eficiência. Mas então por que continuamos a ouvir queixas e impropérios quanto ao tempo? Temos o problema que a maioria dos profissionais da educação não é comprometida e não faz bom uso desse tempo que tem disponível para elaborar suas aulas e fazer suas pesquisas para levar aos nossos estudantes uma educação de qualidade que o ensinem a viver adequadamente em sociedade.

Para que haja uma mudança educacional é preciso haver comprometimento efetivo dos profissionais que escolheram o magistério como profissão, além de amplo envolvimento da comunidade a quem as escolas servem e apoio governamental, do contrário tudo permanecerá igual, inapropriado e ineficaz como está.

 

*Matheus M. Cruz, acadêmico de Licenciatura em História

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