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Pacote de maldades

*Péricles de Holleben Mello

Elevação da tarifa do IPVA em 40%. Aumento de 12% para 18% ou 25% do ICMS de 95 mil itens de consumo, que vão de medicamentos, eletrodomésticos, ração para animais até material escolar. Taxação dos servidores públicos aposentados e pensionistas em 11%.

Nenhum eleitor, nem o mais pessimista, jamais imaginou que o governador eleito em primeiro turno, com ampla aprovação, poderia simplesmente se voltar de maneira tão obstinada contra o povo que o elegeu.

Em seu delírio, o governador não ouviu sequer o setor que mais o apoia. Em reunião com o chamado G7, grupo que reúne as lideranças industriais e comerciais do Paraná, Richa se mostrou irredutível em relação ao pacote de maldades que enviou à Assembleia Legislativa, causando profunda decepção e muitas críticas.

O presidente da Fiep, Edson Campagnolo, uma das vozes mais autônomas e distintas do empresariado, disse em entrevistas à imprensa que Richa não mudou de opinião mesmo depois de alertado sobre o estrago que as medidas irão causar ao Paraná, como inflação e desemprego. Se um governador do PSDB não se mostra disposto a negociar sequer com os empresários, que dirá com o funcionalismo público, com os aposentados e com a população que vai pagar mais caro para viver a partir de 2015.

O que causa ainda mais perplexidade é que não há justificativa para o tarifaço imposto aos paranaenses. Entre as 27 unidades federativas, nosso Estado teve o maior aumento de receita corrente líquida entre os anos 2010 e 2014, 56%, o que significa mais que o dobro da inflação do período, que ficou em 24%.

Na Assembleia Legislativa o povo paranaense também não encontrou esperança. Mesmo sob protestos de alguns parlamentares, Richa manteve sua folgada margem de apoio e o pacote de maldades foi aprovado sem maiores dificuldades na Casa.

Junte-se a isso uma excrecência no Regimento Interno da Alep, que permite transformar as sessões em Comissão Geral e passar o trator por cima das prerrogativas da Casa no que tange à discussão dos projetos.

E o pesadelo pode estar apenas no começo. Segundo o futuro secretário da Fazenda do Paraná, Mauro Ricardo Costa, outras medidas ainda poderão ser tomadas para sanar as contas de um estado que está quebrado, de acordo com suas próprias palavras. Dentre elas, cortes, como os que já ocorreram em alguns serviços nas áreas de Educação, Segurança e Saúde.

Todos lembram do corte de custeio das universidades, viaturas policiais sem gasolina, aluguéis de prédios das delegacias em atraso e do não cumprimento do investimento mínimo de 12% do orçamento em Saúde. De outro lado, exagero na contratação de comissionados, mais de R$ 100 milhões em publicidade e compra de ações da Sanepar por preço superestimado.

Costa não poupa seu vocabulário. Sinalizou que as despesas com pessoal devem ser estancadas porque o governo do Paraná gasta mais do que arrecada. Isso significa, na prática, nenhum reajuste para os servidores públicos estaduais, nenhum concurso público.

Um poema de Bertold Brecht nos alerta sobre a letargia que se abate em muitos de nós quando oprimidos pelo Estado, relatando o desespero de alguém que não se importou quando a opressão surpreendeu os negros, primeiramente, depois os operários, em seguida os desempregados. Quando chegou a sua vez, também não encontrou solidariedade. No Paraná, todos nós fomos afetados de forma indiscriminada, de uma única vez.

 

*Péricles de Holleben Mello é deputado estadual

 

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