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Planejamento escolar: entre o possível e o desejável

* Paloma Borba

Em meio aos debates eleitorais que passamos, a alusão ao Plano de Governo apresentado pelos candidatos foi usada como argumento para justificar a opção de milhares de eleitores. Não por acaso. Através de seus planos de governo, os candidatos tornavam públicas suas metas para o período de sua gestão.

Como a escola é uma reprodução da sociedade em escala reduzida, a concepção do planejamento escolar compartilha do mesmo caráter político de um Plano de Governo. Assim como ocorre na esfera governamental, a educacional precisa contemplar não apenas os interesses da instituição, determinados a partir de sua proposta pedagógica, mas também os de coordenadores, professores, estudantes e comunidade escolar em geral. A multiplicidade de interesses, que precisam convergir para tornar a proposta exequível, é um dos aspectos mais contundentes do planejamento escolar.

Assim como ocorre no âmbito da política, a garantia do caráter democrático no processo de produção do planejamento escolar também é bastante recente. Foi a partir da Lei de Diretrizes e Bases de 1996 que os estabelecimentos de ensino passaram a ter como incumbência a elaboração e execução de sua própria proposta pedagógica, a qual deve, obrigatoriamente, articular-se com os interesses das famílias e da comunidade, promovendo a integração entre sociedade e escola.

Infelizmente, aspectos como status e comodidade se sobrepõem, recorrentemente, aos valores defendidos por uma proposta pedagógica que privilegie o respeito às diferenças, o atendimento às demandas sociais contemporâneas e a formação humana, filosófica e artística. Esse comportamento justifica-se pelo fato de que a origem do planejamento escolar está relacionada ao contexto de produção e administração capitalistas, característicos do século XX.

Uma nova visão de planejamento, condizente com os valores da sociedade contemporânea, deve privilegiar pilares como consciência, reflexão, participação e responsabilidade. A natureza holística que permeia os documentos oficiais, a exemplo dos Parâmetros Curriculares Nacionais e a Matriz de Referência do Enem, conduz à formação de indivíduos ativos, situados social, cultural e historicamente, em sintonia com a velocidade das mudanças promovidas pela sociedade e capazes de se adaptar a elas.

O planejamento escolar, desde sua versão mais ampla, que seria o projeto político-pedagógico do município, ou a proposta pedagógica da escola, até o nível mais singular, que se refere ao plano de curso ou de aula do professor, deve considerar três situações norteadoras: objetivos que já foram contemplados, metas a serem conquistadas e definição do plano de ação.

É necessário que os sujeitos que integram o processo de planejamento escolar conheçam profundamente os valores que a instituição deseja representar e consolidar; as necessidades da comunidade escolar e a realidade com a qual precisam lidar. O equilíbrio entre as necessidades a serem alcançadas e os meios disponíveis para essa realização constitui, muitas vezes, não o reflexo de uma situação ideal, mas a oportunidade de constantes reinvenções.

 

(*) Paloma Borba é doutora em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e assessora pedagógica de Serviços Educacionais da Saraiva

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