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Guaricana: o que o novo parque nacional representa para o Paraná?

*Emerson Oliveira

Envolto aos últimos dias de campanha eleitoral para o segundo turno da eleição presidencial, por meio de Decreto Presidencial, foi criado no Paraná o Parque Nacional de Guaricana. Com aproximadamente 44 mil hectares, o mais novo parque nacional paranaense possui extensão semelhante a Curitiba, ultrapassando a área da capital em cerca de cinco mil hectares e sendo o segundo maior exclusivo do Paraná.

A nova unidade de conservação do estado abrange trechos de Mata Atlântica preservada da Serra do Mar em Guaratuba, Morretes e São José dos Pinhais, além de outras áreas da Região Metropolitana de Curitiba e da Planície Litorânea do Paraná. A cerca de 30 km do centro da capital, a localização de Guaricana é estratégica em função da facilidade de acesso para o uso público (turismo e pesquisa) controlado da área – um dos objetivos principais de um Parque Nacional – além da preservação da riquíssima biodiversidade local, uma vez que se encontra no maior fragmento contínuo preservado de Mata Atlântica do Brasil.

Devido às características da área, há ocorrência de diversas espécies endêmicas, ou seja, que só ocorrem em áreas específicas.  Muitas delas já estão ameaçadas, em virtude da quase completa destruição da Mata Atlântica, bioma que possui apenas cerca de 8% de cobertura original. Estudos também identificaram 155 espécies da flora na Serra da Igreja, no interior do parque, o que o classifica como uma das regiões com maior riqueza entre as áreas alto-montanas estudadas até então no Paraná. O próprio nome Guaricana faz referência a espécies de pequenas palmeiras que ocorrem no parque e que já são consideradas como criticamente ameaçadas em outros estados, como o Rio Grande do Sul.

Em relação ao potencial de ecoturismo do local, destaca-se a provável ocorrência de vestígios do antigo Caminho Histórico do Arraial, que acompanhava o rio homônimo em parte da área do Parque Nacional e servia de ligação aos primeiros viajantes que se deslocavam do litoral paranaense para a região de Curitiba. Também merecem destaque os rios, que com suas cachoeiras e corredeiras seguem seus cursos entre as dezenas de serras, escarpas e vales do parque. A beleza é tamanha que a área já é utilizada para trekking e apreciação das quedas d’água locais, bem como para montanhismo e rapel. Agora, essas práticas deverão ser regularizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Em tempos de crise no abastecimento de água, vale ressaltar que Guaricana também exercerá papel fundamental para garantir, a longo prazo, o suprimento hídrico de Curitiba e dos municípios do litoral. Também há potencial de geração hidrelétrica em alguns trechos, além desses cursos d’água garantirem a manutenção dos estuários que fornecem recursos pesqueiros e suportam parte significativa da economia regional.

É evidente toda a relevância e importância da criação dessa unidade de conservação, desde geração de conhecimento, fomento ao turismo até garantia de qualidade de vida para a população. Com esse importante passo para a proteção do patrimônio natural dos paranaenses, é necessário cumprimentar a todos os envolvidos na criação do Parque.

Com exemplar processo democrático envolvido em sua criação, unindo por mais de seis anos diversos setores da sociedade em importantes discussões, a criação de Guaricana proporciona às demais nações do planeta um exemplo de civilidade e de preocupação com a manutenção da vida: desta e das futuras gerações.

 

* Emerson Antonio de Oliveira é doutor em Conservação da Natureza e coordenador de Ciência e Informação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

 

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