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O turismo subdesenvolvido do Brasil

Por Sandro Ferreira

Comumente alguns que não têm conhecimento do que é o turismo, o define como uma indústria sem chaminés, reproduzindo um clichê simplista que reduz substancialmente seu entendimento estratégico, seja para uma cidade, estado, ou país, afinal, um dos mais expressivos movimentos humanos da história, que se tornou uma das maiores atividades econômicas do planeta já há algumas décadas, também é muito mais do que uma indústria sem chaminés, pois o turismo demanda de várias outras indústrias, todas elas com grandes chaminés, além de milhões de pessoas, milhares de aeronaves, trens, automóveis, ônibus, navios, eventos, agências, meios de hospedagem, entre tantos outros fatores que envolvem este complexo setor.

Pela perspectiva da indústria sem chaminés, vende-se a ideia de que o turismo só embute vantagens à localidade que o desenvolve, porém, em muitos casos, com mais frequência onde se desencadeia o turismo de massa, as consequências acabam sendo mais danosas do que vantajosas, ao menos à maioria da população local, trazendo consigo forte majoração dos preços no comércio e nos serviços, superlotação de equipamentos e espaços públicos já subdimensionados e muita poluição sonora, visual e ambiental, além de outros pontos negativos do desenvolvimento turístico sem planejamento. Devido a isso, o turismo moderno tratado científica e economicamente pelos governos responsáveis, é pautado na sustentabilidade socioambiental e econômica, com apoio de investimentos e profissionais do setor privado.

Entretanto no Brasil, historicamente o turismo tem sido interpretado e praticado de forma amadora, precária e descoordenada, tanto por entes públicos quanto privados, que a despeito da evidente potencialidade nacional, continuam sem conseguir deslanchar o turismo receptivo, que apresenta números pífios diante das possibilidades e principalmente quando comparado aos de outras nações, inclusive várias menores em extensão, população e atrativos. Mesmo tendo a maior biodiversidade de fauna e a floresta mais extraordinária do planeta, praias e ilhas paradisíacas, cânions de tirar o fôlego, rios, cachoeiras, cavernas, grandes centros culturais, agrícolas e industriais, povo hospitaleiro, clima agradável, democracia, enfim, o país continua com um fluxo de turistas acanhado e há muitos anos estagnado. Nem a Copa do Mundo 2014 (com maquiagem dos números oficiais ainda frustrantes), conseguiu aumentar significativamente o número de visitantes.

Se na natureza e hospitalidade somos imbatíveis, ainda deixamos a desejar na qualidade dos serviços turísticos, aonde com raras exceções, se oferece a prestação de um serviço mínimo pelo preço máximo, às vezes não havendo nem como se buscar um concorrente de melhor qualidade, pois a prática da maioria é o nivelamento por baixo. E o viajante ainda tem de agradecer! Somados a violência urbana e a cultura imediatista, que deseja faturar na alta temporada o lucro do ano inteiro, emperram o progresso do setor no país, ou seja, no Brasil, ao invés de se explorar o turismo, só se explora o turista. Assim como a saúde, educação, infraestrutura, segurança-pública, justiça e a política, o nosso turismo também permanece subdesenvolvido.

O autor é Turismólogo pela UEPG e cidadão brasileiro.

o turismo moderno tratado científica e economicamente pelos governos responsáveis

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