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E se fossem os holandeses?

Matheus M. Cruz

 

Não sou estudioso das linguagens, mas me recordo bem de quando ainda estava no ensino fundamental e surgiu uma discussão, que foi amplamente divulgada nos meios midiáticos, na qual não se deveria mais dizer que os alunos estavam escrevendo ou falando errado, que, no máximo era inadequado e que deveria se respeitar ao máximo as variantes linguísticas das quais o nosso país está repleto. Não venho aqui debater sobre a língua portuguesa em si e seus desdobramentos regionais, mas sobre como ela tem sido usada por políticos e marqueteiros em prol de um projeto de poder.

Li um texto essa semana que falava um pouco sobre como os conceitos de determinadas palavras estão sendo modificados pela facção política que detém o poder. O texto trazia uma crítica simples ao fato de minorias não levarem mais em conta os padrões numéricos, como considerar as mulheres como tais, pertencer a uma raça não é mais relacionado à cor da pele ou a ascendência genealógica, tudo parece se resumir as posições partidárias, nem mesmo as suas convicções ideológicas.

Não me surpreende a dificuldade de admitir, de dialogar, a falta de sensibilidade e até mesmo o pedantismo dos partidos que beberam na fonte do tão idolatrado Marx, que assim o era, mas confesso que a maneira com que deturpam até mesmo as teorias marxianas isso sim me surpreende. Marx pregava a Revolução Comunista para libertar a classe trabalhadora, maioria, do julgo e exploração dos capitalistas, minoria, a própria teoria está baseada nesse dualismo e na injustiça de muitos nada terem e poucos terem tudo, simplificando. Sei que a sociedade atual tem uma formatação bem diferente, mas vejo muitos ditos marxistas tentando colocar a formatação atual às suas doutrinas, não percebendo o anacronismo eminente.

Sinto que seja um pouco simplista demais observar a dinâmica atual sob a égide dualista que banhou a Guerra Fria em que antagoniza classes sociais e modelos de governo, e suas respectivas propostas, entre direita e esquerda, como está nos dias atuais, entre os coxinhas e os petralhas. Não creio que esse maniqueísmo poderá dar a solução para os problemas sociais, políticos e econômicos que o Estado brasileiro enfrenta.

Nossos problemas sociais não estão baseados simplesmente nas lutas de classes, a problemática vai além e não, o problema não é só o capitalismo que destrói a vida das pessoas e as levam até a miséria. É necessário que haja um debate adulto e baste desse facciosismo que em nada auxilia os rumos do Brasil. É preciso que tanto governo como oposição reconsiderem e admitam seus erros e saibam dialogar, até porque sem diálogo não há democracia. É necessário que se deixe essa política de marketing simplesmente, de sensacionalismo e discuta-se com seriedade os problemas nacionais e abandone-se essa estratégia de se manter no poder, ou conquista-lo, às custas de ideologização de conceitos e massificação de informações infundadas e rasas que iludem a sociedade de que estão informadas e prontas para opinarem, quando na verdade estão sendo simplesmente manipuladas.

Que se parem com essa vitimização, que chega a ser cultural aqui no Brasil, e se discuta com seriedade a sociedade em que vivemos, do contrário, continuaremos nessa inércia de modificações efetivas que transformem de fato o estado do Brasil e viveremos na eterna nostalgia por algo que não aconteceu, como no caso dos pernambucanos, Ah! se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses….

 

O autor é acadêmico de Licenciatura em História

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