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Exige-se experiência prévia…

Wanda Camargo

Um das maiores frustrações dos jovens que procuram o primeiro emprego é a condição imposta por muitas empresas de que já tenham exercido a função a que se candidatam, ou alguma semelhante. Isso depõe contra as próprias empresas, como se pretendessem que seus contratados já tivessem sido treinados pelo concorrente, já tivessem cometido os erros naturais do aprendizado em outro lugar, e chegassem preparados para desempenhar como autênticos campeões.

Boas corporações não agem dessa forma, entendem que ao lado da formação acadêmica, parte da qualificação de trabalhadores para suas necessidades será realizada por elas mesmas, assumindo o risco e a responsabilidade de ensinar, apresentando possibilidades de treinamento e estágios em vários níveis.

Ao colocar o aluno em situações reais de trabalho, o contato com os valores éticos, o modo de inserção na cultura específica de sua futura profissão, o exercício efetivo, esclarecem-no na prática do dia a dia, e se esta é efetivamente sua vocação. Desta forma, o estágio costuma validar, ou não, a escolha feita, pois permite comparar realidade e expectativas, já que todo trabalho tem impactos sociais, positivos ou negativos. Analisar o contexto da área pretendida reafirma o compromisso de seus próprios interesses frente às demandas da sociedade, uma carreira não deve representar apenas um meio de obtenção de sucesso, dinheiro e prestígio; aspectos como criatividade e inovação são fundamentais, pois acrescidos do prazer no exercício de alguma atividade representam qualidade de vida e, de forma geral, saúde física e emocional.

A graduação, qualquer que seja ela, representa um primeiro passo, mas depois deste muitos outros virão. Realizar um estágio é uma importante ferramenta para a obtenção da experiência exigida ao sair da faculdade.

Nas questões de aprendizagem, sabe-se que quando uma escola admite um aluno, ensina bem mais que o contido em sua grade curricular; ensina também uma forma de resolver problemas, uma maneira de relacionar-se com o mundo, uma regra de convivência com os demais. Ao lado da formalidade das disciplinas, a informalidade, tanto do relacionamento interpessoal como do exemplo de condução dos problemas diários, instrui bem mais que imaginamos num primeiro momento. Muitas normas comportamentais e cognitivas são ensinadas pela tradição institucional, e o mesmo acontece nas empresas, onde o desempenho depende não apenas da própria formação do trabalhador, mas também da estrutura organizacional, que correlaciona características pessoais com a pertinência das tarefas que realizam.

Organizações que se pretendem razoavelmente competitivas num mercado globalizado, hoje estão preocupadas não apenas com procedimentos operacionais, mas também com um novo plano de alcance de metas, seletividade no uso de seus recursos, com estratégias comportamentais e de autorregulação, auxílio mútuo, controle emocional e quanto a falhas de concentração, e grande consideração quanto às questões motivacionais.

Adequar um jovem estudante ao espaço corporativo demanda certo tempo e experiência – bons líderes são necessários para a empreitada – e estes não lamentam se aquele jovem promissor for capturado para outro emprego após todo o investimento feito nele; isso sinaliza que a seleção e o preparo foram eficazes, e talvez alguma coisa deva ser repensada.

Segundo Peter Senge, as organizações prontas para aprender são as que estão prontas para o sucesso, e melhores ainda são aquelas que estão prontas também para ensinar.

 

A autora é assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

A graduação, qualquer que seja ela, representa um primeiro passo, mas depois deste muitos outros virão

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