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Os riscos do Projeto da Terceirização

Aliel Machado

Na semana passada foi votado na Câmara Federal o Projeto de Lei 4330/04, de autoria do ex-deputado Sandro Mabel, que regulamenta as terceirizações no mercado de trabalho. A inclusão da matéria causou muita discussão no Plenário também fora do Congresso. Centrais sindicais como a Central Única dos Trabalhadores – CUT e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB, defensoras dos direitos dos trabalhadores protestaram. Mas mesmo sob protesto, o projeto acabou aprovado pela maioria dos deputados e seguiu esta semana para a votação dos destaques.

Ao contrário do que dizem os favoráveis à universalização da terceirização, não se trata de dar mais segurança aos cerca de 12 milhões de trabalhadores terceirizados existentes no país. Eles certamente merecem respeito, atenção e garantias trabalhistas, assim como os demais. Trata-se na verdade de um retrocesso nos direitos conquistados à duras penas, ainda durante o Governo Getúlio Vargas na década de 1940, com a implantação da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, anunciada pelo presidente para milhares de brasileiros na tribuna de honra do Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro.

Hoje, 72 anos depois daquele momento histórico, voltaremos a estaca zero. Basta perguntar a um trabalhador terceirizado se ele acha justo receber menos, possuir menos direitos que os contratados e ainda desenvolver mais tarefas que os demais. Ou então, a um funcionário contratado de forma direta se ele preferiria ser terceirizado para executar a mesma função, ganhando menos por isso, só porque parte do seu salário ficaria com a empresa que o contratou.

Há hoje no país mais de 35 milhões de trabalhadores diretos. Mas com a aprovação do PL 4330, as empresas poderão terceirizar qualquer atividade no seu segmento, inclusive a atividade principal. Por exemplo, um banco que até então pode terceirizar a segurança e a limpeza, poderá a partir de agora contratar também bancários terceirizados. E eles chegam a ganhar 1/3 de um bancário contratado. Isso sem falar nas demais profissões que serão atingidas. Essa possibilidade coloca em xeque a qualidade do emprego formal desses trabalhadores, justamente num momento em que o país precisa investir mais em mão de obra para voltar a crescer. É uma questão de opção pelo desenvolvimento.

Não sou contra o Projeto apenas por questões ideológicas. Como deputado eleito para representar toda a população, também irei analisar e votar projetos que favoreçam os empresários. No entanto, na minha avaliação, eles não podem trazer prejuízos aos trabalhadores. O que não é o caso.

Só para complementar a reflexão, um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que trabalhadores terceirizados trabalham mais e ganham menos que os funcionários contratados. O salário chega a ser 27% menor e trabalha-se em média 3 horas a mais por semana. Além disso, a rotatividade nas empresas terceirizadas é bem maior. A média de permanência dos terceirizados no emprego é de 2,6 anos, já a do trabalhador direto é de 5,8 anos. Uma rotatividade que é de 44,9% nas terceirizadas e de 22% entre os diretamente contratados. Outro fato relevante a ser destacado é o número de acidentes de trabalho. O DIEESE apurou que, a cada 10 acidentes de trabalho, 8 ocorrem em empresas terceirizadas. Com isso, o país deve ter ainda mais gastos com o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), por conta dos custos com o seguro desemprego.

Como vemos, ainda é preciso avançar muito nas conquistas dos trabalhadores terceirizados, adotando o princípio de isonomia, com maiores garantias e remuneração adequada. Porém, isso não se dará com a aprovação de uma lei que coloca todos os demais trabalhadores em risco.

A legislação trabalhista merece e necessita de análises profundas para atender a demanda atual do mercado de trabalho e também das empresas. Mas não será com a desvalorização do trabalhador, a precarização do trabalho, que conseguiremos atingir um nível desejável de desenvolvimento para o país e de qualidade de vida para a sociedade.

 

?*O autor é deputado pelo PCdoB e membro da Comissão da Educação e da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Petrobras.?

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