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O tempo da comédia

É uma sensação de muita alegria reencontrar o casal acreano Dinho
Gonçalves e Marília Bomfim, do Grupo do Palhaço Tenorino (GPT), de Rio Branco (AC).
Havia 11 anos que eles não aportavam por estes lados. Para quem acompanha o
Fenata há anos, Dinho e Marília se tornaram sinônimos de pessoas absolutamente
sérias e honestas que praticam muito bom teatro.

Portanto, para quem viu espetáculos como Abajur Lilás, de
Plínio Marcos, e A Menina e o Palhaço, de autoria do casal, a expectativa em
relação a Quem é o Rei?, que o grupo apresentou na noite desta quinta-feira
(8), era muito grande. Ocorre que essa expectativa, infelizmente, não se
cumpriu.

O texto é de Marília e, segundo a publicação que o grupo fez
em homenagem aos seus 20 anos, ‘GPT 20’, é a sua peça mais complexa. Não é à
toa que foram sete anos escrevendo, alterando, acrescentando, até chegar ao
resultado final, diz a edição comemorativa. Mas o que houve de errado, se, em
cena, Dinho demonstra uma presença carismática; se Marília faz uma diretora na
medida; e se Sandra Buh interpreta uma vendedora de mamão impagável? Se a
cenografia é pontual, se a luz é precisa, se a maquiagem é certeira e se a maioria
das piadas funciona? Levando em consideração tudo isso, era para o espetáculo
dar certo. Mas como, se para a maioria do público isso efetivamente aconteceu? Senão,
como explicar as gargalhadas e a manifestação generosa das palmas no final?

Pois é, acontece que tudo isso não foi suficiente para fazer
de Quem é o Rei? um espetáculo memorável. A começar do texto. A metateatralidade
pretendida por Marília não se cumpriu, e as participações de Sandra, muito
embora tenham sido engraçadíssimas, ficaram no limite da timidez. Uma questão
fica no ar: já que o metateatro é um mote do espetáculo, por que não aproveitar
o potencial de Sandra para a inclusão de cacos?

Ainda em relação ao texto, é bom lembrar da sugestão de um
dos jurados para adaptar o texto para apresentações fora do Acre, com
conotações políticas mais claras. Nesse contexto, o texto se perdeu e tudo
virou uma grande brincadeira, ponto. E o risco foi a montagem ficar somente com
a ‘meta’ e deixar de lado o ‘teatro’ quase de fora. Problemas de direção? Talvez.
É algo que Dinho deve repensar. Para uma comédia, faltou timing e sobraram ‘barrigas’
– principalmente nas cenas envolvendo Bell Paixão (que, diga-se de passagem, é
uma atriz muito boa).

No mais, Quem é o Rei? foi mais um exemplo de espetáculo
montado para espaços menores e mais intimistas e, por causa disso, se ressentiu
da enormidade do auditório A do Cine-Teatro Ópera. Esse fato chegou a influir
na apresentação de quinta à noite? É possível que tenha contribuído. O fato é
que isso está se tornando recorrente e, para as próximas edições do Fenata,
algo precisa ser feito pela coordenação do festival. Sob o risco de as
montagens que vêm para cá contarem com mais esse empecilho. A se pensar.

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