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Quando Lorca não acontece

Retratar o amor – o tema universal por excelência – através
de uma história entre insetos. Essa foi a maneira que o dramaturgo espanhol Federico
Garcia Lorca utilizou, por meio da fábula O Malefício da Mariposa, para visitar
pequenas sutilezas das relações afetivas, com a originalidade e profundidade de
poucos.

Eis o que informa a sinopse do espetáculo homônimo
apresentado na noite desta terça-feira (13), no auditório A do Cine-Teatro
Ópera, pelo grupo Ave Lola Espaço de Criação, de Curitiba, com tradução da peça
e direção da montagem por Ana Rosa Genari Tezza. A comédia que vamos
apresentar é humilde e inquietante ‘comédia rota’, das que querem arranhar a
lua e arranham o próprio coração, diz a sinopse.

Bem. O espetáculo é todo marcado, com um ator (Val Salles) e
duas atrizes (Alessandra Flores e Janine de Campos) que se esmeram em interpretar
movimentos de insetos. A maquiagem e o figurino são bem acabados e a
manipulação dos bonecos que representam os insetos é muito bem feita. A trilha
chega a ser adequada, mas, em determinado momento, torna-se cansativa.

E, se é uma fábula, o movimento natural seria o público
embarcar nela, certo? A resposta seria positiva se de fato isso acontecesse. O
problema é que tal não ocorre. Aliás, é o espetáculo que não acontece. E por
que? Por alguns motivos.

O primeiro deles é o fato de Val iniciar a apresentação falando
em… espanhol. Como assim? Para demarcar que se trata de uma peça de um autor dessa
língua? Depois, entendia-se pouco do que Alessandra e Janine falavam. Ou seja,
o velho problema da dicção, tão cara ao ofício de ator. E, por último, simplesmente
não se entendeu o texto em si devido ao sem-número de referências colocadas em cena
e justificadas pelo elenco no debate após o espetáculo (Cirque Du Soleil entre
elas). Sem contar que a cena em que o boneco da mariposa é manipulado por todo
o elenco, revezadamente, e tem falas das duas atrizes, pareceu algo no melhor
estilo ‘olha-o-que-eu-sei-fazer-em-cena’.

O ponto alto foi a conversa entre o boneco da mosquinha e a
diretora da montagem, que falava da plateia. Apesar de o colóquio, digamos
assim, ter sido em espanhol, ele foi bem engraçado. A pergunta que fica é: por
que não foi assim durante toda a apresentação?

Mas não. O resultado foi um espetáculo que resvala no
pernóstico e repleto de referências que não deveriam estar ali, já que
embotaram a verdadeira origem da peça: o seu caráter popular.

 

Outro Lorca

É uma pena que Lorca não tenha tido melhor sorte neste 40º Fenata.
No último sábado (10), a Cia. Ser ou não Cena de Teatro, do Rio de Janeiro (RJ)
apresentou outro texto do autor espanhol, O Amor de Dom Perlimplim com Belisa
em seu Jardim. Dirigida por Claudio Sásil, a montagem também foi equivocada,
pois não se sabia em qual registro ela estava incluída – aleluia erótica,
farsa burlesca, teatro de fantoches, tragicomédia. Resultou numa apresentação
cansativa e, por vezes, ‘engraçadinha’. E só.

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