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Galinha Tonta

Por Laércio Lopes de Araujo –  [email protected]

Galinha Tonta é o apelido de um menino pobre da cidade de São Francisco em Minas Gerais. A história que se conta é que, tão pobre vivia de mendigar, andando pela cidade dançando e rodopiando, até que um dia, foi expulso de uma casa onde lhe fora dado comida. Acabrunhado, dormiu, sonhou com três meninos de sua idade que lhe ensinaram japonês, alemão e inglês.

A história que já ganhou notoriedade, tendo feito com que Galinha Tonta fosse candidato a prefeito de sua cidade pelo PTN, já constou da obra literária de José Eduardo Agualusa, na novela A sociedade dos Sonhadores Involuntários. O livro é um excepcional libelo, escrito em prosa poética, contra as ditaduras políticas.

Mas o que tem Galinha Tonta com o cenário político brasileiro?

Tudo e nada! Mas, há que se observar bem o que tem acontecido no Brasil para perceber o quanto temos nos comportado como galinhas tontas. Saímos às ruas cantando, dançando, rodopiando, para exaustos, cairmos em sono profundo e voltar sempre ao pesadelo de instituições frágeis e desacreditadas.

Nesta quarta-feira, 2 de agosto, pretende-se votar a autorização para o recebimento da denúncia contra o Presidente da República na Câmara dos Deputados. De forma nada surpreendente, noticia-se que o Governador da Bahia, Rui Costa que é do PT, exonerou dois de seus secretários, um do PSD e outro do PT que se comprometeram a se abster na votação, para dela participarem.

A manobra afastou os suplentes Robinson Almeida (PT) e Davidson Magalhães (PCdoB) que votariam contra Temer. Ora, como entender tal medida?

O PT nunca teve a intensão de salvar o mandato de Dilma Rousseff, responsável que foi pela catástrofe econômica causada ao país. Agora não tem a menor intensão de acabar com o mandato tampão de Michel Temer. Prefere que este sangre lentamente até as eleições de 2018, quando então o salvador da pátria Lula terá suas melhores chances e preservando o seu discurso mole de oposição.

Neste jogo a que o povo assiste bestializado, vem um ex-presidente do STF, ministro que preside o TSE e faz duras e indelicadas críticas ao Procurador Geral da República.

Gilmar Mendes tem nos últimos anos se comportado de maneira errática e no limite da suspeição. Quando torna pública críticas à Procuradoria de forma tão desabrida, fragiliza as instituições e coloca em xeque a validade jurídica das decisões que ele mesmo prolata.

Dizer que a PGR reescreveu o Direito Penal, que o STF foi muito concessivo com um direito criado na malandragem e que ficou a reboque das loucuras do procurador é um passo importante para desacreditar todas as operações de saneamento do país e da política.

De forma ainda mais deselegante e preocupante, Gilmar Mendes defendeu, com suas palavras, a volta de um mínimo de decência, sobriedade e normalidade à PGR.

Ora, ou somos todos galinhas tontas e assistimos boquiabertos e paralisados estas manifestações de desapreço e de falta de decoro do ministro, ou há que se dar uma resposta contundente à incontinência verbal do ministro que mancha de forma permanente a sua biografia.

De duas uma: ou Rodrigo Janot é um sujeito louco, indecente, nada sóbrio e anormalmente incapaz ou Gilmar Mendes é não só suspeito, mas alguém cuja atitude e postura fere a dignidade da magistratura e com ela é incompatível.

E nós? Galinhas tontas!

 

 

O autor é médico e bacharel em direito formado pela Universidade Federal do Paraná, atua em psiquiatria há 27 anos, Mestre em Filosofia e especialista em Magistério Superior.

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