Investimento em tecnologia pode levar indústrias a economia de água

Dando sequência à série de reportagens sobre o consumo da água, iniciada no dia 15 de março, pelo Diário dos Campos, o tema deste domingo envolve a indústria, setor que responde por cerca de 20% do consumo de água bruta (média mundial) e fica logo atrás da agricultura, com 72%. Para falar sobre as ações que o setor industrial vem desenvolvendo no sentido de economizar o bem natural mais precioso, o entrevistado é o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo.

Entre os pontos citados pelo presidente e que levam ao bom aproveitamento da água está o investimento na modernização das máquinas e equipamentos, porém o incentivo do governo federal é visto como fundamental para o setor. Ele acredita que o Brasil precisa avanças, especialmente em relação aos marcos regulatórios, já que existem diversas possibilidade em termos de tecnologias que poder ser utilizadas pelas empresas para reduzir o consumo.

Para o presidente, com a adoção de boas práticas é possível ao setor baixar, ao longo dos próximos anos, a participação no consumo total de água. Confira a entrevista.

DC- A economia de água é um assunto que preocupa os industriais? Todos têm a mesma consciência sobre a necessidade de economia?

Edson – Já existem inúmeras indústrias e entidades trabalhando seriamente nesse sentido. Obviamente, este tema está mais avançado em algumas organizações, em outras nem tanto. O aumento da consciência dos empresários em relação à responsabilidade das empresas sobre o meio ambiente é um dos fatores que influenciam nesse movimento. Além disso, o industrial sempre trabalha no sentido de otimizar a gestão e os custos de sua empresa, em todas as áreas, o que inclui também o controle do uso da água. Por isso, muitas empresas já fazem constantes investimentos para racionalizar esse uso.

DC-Existe política pública na indústria que incentiva a redução do consumo? Se sim, qual (is) seria (m)?

Edson – Este é um ponto em que o Brasil precisa avançar, especialmente no que diz respeito aos marcos regulatórios. Existem inúmeras possibilidades em termos de tecnologias e processos que podem ser utilizadas pelas empresas para reduzir o consumo de água. Mas o industrial e o empreendedor precisam de segurança jurídica para fazer esses investimentos. No caso da água, precisamos, assim como em outras áreas, de mais liberdade regulatória, de mais liberdade para trazer novas tecnologias para que possamos ajudar ainda mais nos esforços para otimizar o consumo da água. Também seria importante a criação de linhas de financiamento diferenciadas para a indústria que quer trabalhar com equipamentos mais eficientes em seus processos relacionados ao meio ambiente. Mais do que punir quem falha nessa área, seria importante o poder público pensar em como recompensar as empresas que vão além de sua obrigação e que desenvolvem processos inovadores na gestão ambiental.

DC- O setor industrial se reúne para discutir sobre o assunto água?

Edson – O setor industrial sabe de sua responsabilidade não apenas sobre a gestão da água, mas na questão ambiental como um todo. Por isso, possui órgãos, nas esferas nacional e estadual, responsáveis por debater e propor soluções nessa área. Tanto a Confederação Nacional da Indústria (CNI) quanto a Fiep possuem um Conselho Temático de Meio Ambiente, que reúne empresários e especialistas para discutir os mais variados temas ligados à questão ambiental na indústria. Além disso, em uma iniciativa conjunta da Fiep e da CNI, no ano passado criamos a Rede de Recursos Hídricos da Indústria do Paraná. O objetivo dela é fortalecer a representatividade do setor industrial do Estado em fóruns relacionados à gestão de recursos hídricos. Esse trabalho é articulado pela Gerência de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Sistema Fiep, que oferece apoio técnico aos representantes da indústria nos Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado.

DC – O aproveitamento da água da chuva é uma prática adotada pelas indústrias?

Edson – Não temos um levantamento exato de quantas empresas utilizam essa prática no Paraná ou no Brasil, mas certamente é um dos recursos adotados pelos industriais para otimizar o consumo de água. Mas a redução do consumo vai muito além do aproveitamento da água da chuva. Hoje existem novas máquinas e tecnologias que permitem um menor desperdício de água nos processos produtivos de diferentes setores. E muitas indústrias têm investido em plantas com ciclos fechados, em que a água utilizada em determinadas etapas do processo produtivo não é descartada, mas sim tratada e reutilizada na produção. Tudo isso contribuiu para uma redução significativa no consumo de água por essas empresas.

DC- O que a Fiep pode fazer ou está fazendo para orientar os industriais sobre a importância da água?

Edson – Além dos debates dentro do Conselho Temático de Meio Ambiente e da Rede de Recursos Hídricos da Indústria do Paraná, o Sistema Fiep oferece uma série de soluções práticas para o melhor uso da água no setor produtivo. As quatro instituições que compõem nossa entidade – Fiep, Sesi, Senai e IEL – oferecem capacitações, consultorias e cursos voltados ao uso sustentável dos recursos hídricos. Um dos destaques nessa área é o Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente e Química, instalado em Curitiba, mas que atende todo o Paraná. Ele oferece pesquisa aplicada, inovação tecnológica, consultorias, ensaios laboratoriais e educação especializada na área ambiental. Além disso, através da Faculdade da Indústria IEL, oferecemos o MBA em Gestão e Planejamento Energético e em Gestão e Desenvolvimento Industrial, que entre outros assuntos analisa e estuda meios de gestão, reuso e uso inteligente da água e possibilidades de novas fontes de energia. E dentro do Programa de Desenvolvimento Associativo (PDA), a Fiep oferece aos sindicatos industriais e empresas associadas a eles o curso “Como Prevenir Problemas Ambientais”, que analisa as vantagens com a regularização ambiental e o processo para a obtenção de licenças. Todas essas ações estão alinhadas com a missão do Sistema Fiep, que é contribuir com a competitividade da indústria paranaense e o desenvolvimento sustentável do Estado.