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Valorizar os pequenos negócios pode ser alternativa para a crise

O Sebrae realiza, em âmbito nacional, um evento que tem como principal objetivo ajudar a estimular a economia do país. “Compre do pequeno negócio” é o nome da iniciativa que está mobilizando as cidades brasileiras. Para falar mais sobre o assunto e apresentar detalhes sobre o funcionamento do evento, o Diário dos Campos publica entrevista especial com o presidente nacional do Sebrae, Luiz Barreto Filho.

Formado em Sociologia (PUC-SP), ele foi secretário-executivo e depois ministro do Turismo. Desde fevereiro de 2011 é diretor presidente do Sebrae Nacional. Antes disso, já havia atuado na instituição, entre março de 2005 e março de 2007, como gerente nacional de Marketing e Comunicação. Sua vida pública teve início na década de 1980, na Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e no Cedec (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea), ambos de São Paulo. Nesta entrevista exclusiva, fala sobre o Movimento Compre no Pequeno Negócio, que acontece nesta segunda-feira em todos os estados brasileiros. Acompanhe

 

DC- Qual a motivação para o Se­brae lançar o Movimento Compre no Pequeno Negócio?

Luiz Barreto – Muita gente não imagina que comprar de uma mi­cro ou pequena empresa contribui para a recuperação da economia. Os 10 milhões de pequenos ne­gócios representam mais de 95% do total de empresas brasileiras e são responsáveis por 27% do PIB (Produto Interno Bruto) e mais da metade dos empregos formais do país. Eles garantem o salário de 17 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Mesmo em um ano difícil como este, os peque­nos negócios continuam gerando empregos. No primeiro semestre, foram 116,5 mil novas vagas nos mercadinhos, cafeterias, pet shops e outros comércios e serviços.

Quanto mais consumidores optarem pelas micro e pequenas empresas, mais elas terão condi­ções de seguir no ritmo de geração de empregos e de renda. Quere­mos conscientizar a sociedade de que comprar do pequeno negócio é um ato cidadão, transformador, porque movimenta o dinheiro na região onde o consumidor mora ou trabalha. Isso gera novas opor­tunidades de desenvolvimento local e contribui para a abertura de novas vagas de trabalho e au­mento da renda.

 

 

DC – Quantos empresários foram capacitados nos estados para esse dia?

LB – Na semana entre os dias 21 e 26 de outubro, o Sebrae realizou, em todos os 26 estados e no Dis­trito Federal, ações gratuitas de capacitação para microempreen­dedores individuais (MEIs), donos de micro e pequenas empresas, e pequenos produtores rurais. Além dos 700 pontos de atendimento do Sebrae, foram criados 411 pontos adicionais para ampliar o acesso dos pequenos negócios a orienta­ções essenciais para o crescimen­to da empresa. Montamos uma agenda intensa de cursos, pales­tras e oficinas, principalmente so­bre vendas e finanças.

 

 

DC – Qual a importância do seg­mento para municípios de menor porte, do interior?

LB – De cada R$ 10 gastos no Brasil, R$ 4 correspondem ao consumo efetuado no interior do país. Levantamento do Sebrae, realizado em parceria com o Ins­tituto Data Popular, mostra que o consumo fora das capitais e regi­ões metropolitanas soma R$ 827 bilhões ao ano, o equivalente a 38% do total do consumo no país. Esse cenário confirma a existên­cia de um ambiente promissor para os pequenos negócios, na medida em que metade da popu­lação brasileira vive no interior e que essas regiões vêm apresen­tando um crescente desenvolvi­mento econômico. O consumo no interior, hoje, já é maior do que o PIB de muitos países, como Chile, Dinamarca ou Portugal, por exemplo. E ainda há muito potencial de crescimento, em es­pecial para as micro e pequenas empresas que estão nessas loca­lidades e conhecem melhor os mercados e as demandas da sua população. Além disso, a pesqui­sa mostrou que os consumidores no interior definem suas compras principalmente com base no pre­ço e na qualidade e dão menos importância à marca.

DC – A ideia é construir uma rede de bons negócios, certo?

LB – O desejo de consumo repre­senta bons negócios não apenas para o comércio, mas para todos os outros segmentos envolvidos. Isso porque será preciso fabricar móveis, prestar manutenção para as TVs, geladeiras e lavadoras, ter agências de viagens e lojas para vender malas, por exemplo. Sabe­mos que 73% dos municípios do interior têm menos de 20 mil ha­bitantes, o que diminui o interesse das grandes redes. Já o pequeno negócio pode nascer e crescer na sua própria localidade e assim ain­da contribui para o desenvolvimen­to regional. Mais empregos, renda e receita para esses municípios.

DC – O evento deve se tornar anual?

LB – Com certeza, a expectati­va é que em todos os anos o 5 de Outubro se torne uma data em que as pessoas preferencialmente comprem das micro e pequenas empresas e, assim, colaborem com o crescimento da economia brasileira. A expectativa desse Movimento é mostrar para a so­ciedade consumidora a relevância dos pequenos negócios para a es­tabilidade social e econômica do país. Todo mundo compra de pe­quenos negócios, a começar pelo pão quentinho na padaria perto de casa. O que se pretende com esse Movimento é dar um novo significado ao ato de compra. Que o consumidor se conscientize que ao comprar da pequena empresa, ele ajuda a fortalecer a economia local, estimula os pequenos negó­cios a inovarem, a diversificarem a oferta de produtos e serviços, a atenderem melhor o cliente. Espe­ramos também que essa conscien­tização promova um aquecimento nas vendas dos pequenos negó­cios. Que o consumidor entenda que todo dia é dia de comprar dos pequenos, mas que o dia 5 de outubro se torne um dia especial para valorizar os negócios que fa­zem parte da rotina de todos nós.

 

DC – O momento de incertezas do país é propício para uma ini­ciativa assim?

LB – O ano de 2015 tem sido de cautela para as micro e pequenas empresas de todo o Brasil. Mas esse ambiente de incertezas, ao mesmo tempo em que é adverso para a estabilidade econômica, abre possibilidades para inovar, se diferenciar e conquistar novos clientes e mercados. Portanto, da crise podem surgir boas oportuni­dades para quem está preparado para tirar proveito das adversida­des. Nesse cenário, o Sebrae pode atuar para apoiar efetivamente os pequenos negócios e o Movimen­to é uma forma de mostrar esse apoio. Nós percebemos uma opor­tunidade para fortalecer a econo­mia, conscientizando a população da força dos pequenos negócios, que representam mais de 10 mi­lhões de empresas e geram 52% dos empregos formais.

Os pequenos negócios pos­suem maior flexibilidade para se adaptarem às mudanças do mer­cado, superando desafios com criatividade. A retração do consu­mo está forçando os empresários a olharem para dentro do próprio negócio e a qualificar sua gestão para superar as adversidades. Por isso, é fundamental reduzir cus­tos, fidelizar os clientes, controlar melhor o fluxo de caixa, buscar novos mercados, diferenciar-se da concorrência e renegociar preço e prazo com fornecedores

DC – Há experiência semelhante em outros países?

LB – O projeto de criação do Movi­mento Compre do Pequeno Negó­cio inspira-se em experiências de marketing positivas nos mercados norte-americano e europeu. Dos Estados Unidos chegam experi­ências como National Small Busi­ness Week, Black Friday e o Small Business Saturday. O primeiro é comemorado anualmente, desde 1963, quando o governo ameri­cano instituiu a Semana Nacional da Pequena Empresa. Como par­te das comemorações, a Agência para Pequenos Negócios US Small Business Administration aprovei­ta a oportunidade para destacar o impacto da pequena empresa em todos os 50 estados e territórios dos EUA. Já a Black Friday é a tradicional sexta-feira de liquida­ções e acontece sempre na quarta semana de novembro, após o Dia de Ação de Graças. O Small Busi­ness Saturday acontece no sába­do imediato.

O Small Business Sa­turday celebra também a grande contribuição da pequena empresa para a comunidade, valorizando a ideia de que, ao comprar do co­merciante do bairro, o consumi­dor ajuda a fortalecer a economia local, gerando um círculo virtuoso: pequenas empresas estimuladas e fortalecidas buscam inovar, diver­sificam suas ofertas de produtos/serviços e geram mais empregos. Da Europa, sobressaem iniciativas de valorização do comércio local que promovem a ideia do consu­mo responsável e reforçam a im­portância de comprar do pequeno comércio da vizinhança, susten­tando que os pequenos comércios locais têm a capacidade de man­ter a cidade viva, segura, amável, multifuncional, comercialmente justa e socialmente equitativa, cul­turalmente diversa e geradora de emprego na comunidade.

 

Divulgação
BARRETO FILHO:  retomada da economia passa pela valorização do pequeno negócio

 

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