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DA PASSARELA AO GUARDA-ROUPA, O QUE FICA E O QUE VAI

 "Quem vai usar isso?"

Esta é a pergunta clássica que, cedo ou tarde, acabamos ouvindo. Os estilistas e designers contemporâneos utilizam, vez ou outra,  uma linguagem complexa,  poética e até íntima que carece de uma explicação para ser entendida. Criações meio loucas, extravagantes e sem sentido que jamais entrariam no seu ou no meu guarda-roupa.

A obra do gênio Alexander MacQueen

Desde os primórdios,  a moda representa poder e status para muito além da proteção, é uma ferramenta poderosa de comunicação, simbólica e ideológica. O punk, que nasceu na Londres da década de 1970, ilustra bem essa afirmativa. A revolta jovem que disse à moda: "nós não precisamos de você", viu,  por ironia do destino, a própria moda apropriar-se do movimento e torná-lo um estilo atemporal pelas mãos de Vivienne Westwood. O estilo punk sobreviveu ao tempo e permanece pulsante até hoje mostrando que esses modelos de passarela, difíceis de interpretar, exercem papel importante na comunicação de ideias e transmissão de pensamentos que, as vezes, representam uma geração.

O punk de Vivienne Westwood

De acordo com a pesquisadora de moda e escritora Doris Treptow, dois movimentos determinam como surge uma moda e como ela é apresentada ao mercado de consumo. O primeiro, denominado "trikle down"  ou gotejamento, surge nas passarelas das grandes marcas internacionais, as pessoas mais próximas das celebridades e formadores de opinião adotam o estilo primeiro. Assim que é notado pela imprensa o estilo passa a ser divulgado e outras marcas independentes começam a reproduzi-lo. Valorizado pela exposição da mídia, o estilo também será copiado por redes de lojas e marcas que atuam em mercados mais populares adaptando materiais para fornecer o mesmo estilo a um preço mais em conta para o mercado de massa, por último, chega a produção em larga escala e acesso ao público em geral.

Dior

Já o "Buble-up", ou ebulição, faz o caminho contrário, elevando a escala social um estilo surgido nas ruas como o punk e o grunge com origem na rusticidade do lenhador americano.

Estilo grunge

Assim funciona o sistema da moda que, para vender produto, precisa antes, comunicar ideias.

A dupla holandesa Viktor e& Rolf levou ao pé da letra misturar moda e arte para apresentar sua coleção de  outono/inverno 2015

As marcas sempre atentas ao mercado globalizado, são obrigadas a se comunicar com um público cada vez mais cético, expostos a uma profusão de novos produtos nunca vista antes que, se por um lado permite comparar e avaliar qual oferece  mais benefícios, por outro lado dificulta a escolha. Essa comunicação exige uma aproximação que não acontece apenas a aspecto tangível do produto, mas no campo das ideias, o intangível.

O que buscamos ao comprar um celular?

Tecnologia? Status? Sustentabilidade? Inovação?

Talvez tudo isso. O fato é, no caso da roupa, aquilo que não entendemos prontamente, é um recurso utilizado pelas marcas para difundir ideias, não objetiva vender, mas estreitar relações com o mercado consumidor e agregar valor, a venda é consequência.

Desta vez o tema a ser pensado foi a vida urbana, ‘A Cidade Sonâmbula’. A vida urbana está tão louca que a máxima “cidade que não dorme” começa a fazer sentido para os moradores que a cada dia estão mais agitados, cheios de trabalho e insônia. Por Ronaldo Fraga

Ao olhar para moda como comunicação, fica fácil entender que um desfile conceitual, aquele…com os "modelos meio loucos"  nem sempre são feitos para os nossos guarda-roupas, embora pudesse, são feitos para iniciar conversas.

 

 

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