Presidente pronunciou e respondeu a questionamentos de senadores por mais de 12 horas em processo que deve entrar na fase final nesta terça-feira
Em uma sessão que se prolongou por mais de doze horas, a presidente afastada Dilma Rousseff compareceu ao Senado e respondeu a questionamentos de senadores. A votação final deve ocorrer na quarta-feira (31), nove meses após o ex-presidente da Câmara e hoje deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter acolhido o pedido de afastamento da petista.
Dilma Rousseff classificou o atual processo de impeachment como “golpe”, em seu discurso aos senadores, nesta segunda (29). Um golpe que se consumado, resultará na eleição indireta de um governo usurpador. A eleição indireta de um governo, que já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando um povo nas urnas escolheu uma mulher para comandar o país, afirmou a petista. Um governo que dispensa os negros na sua composição ministerial. E já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido e aprovado pelo povo.
Após uma pausa para beber água, a presidente foi aplaudida por alguns presentes. Dilma Rousseff afirmou que há que se configurar crime de responsabilidade, e está claro que não houve tal crime.
Ela disse que afastá-la pelo conjunto da obra, como foi alegado por alguns parlamentares ao longo do processo, não é legítimo. Quem afasta o presidente pelo ‘conjunto da obra’ é o povo, nas eleições, disse. A ameaça mais assustadora desse processo de impeachment sem crise de responsabilidade é congelar por inacreditáveis 20 anos as despesas com saúde, educação, saneamento e habitação, afirmou.
Getúlio e Jango
Dilma citou presidentes brasileiros que foram afastados ou sofreram tentativas de afastamento, como Getúlio Vargas e João Goulart. Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política, nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática, disse. Os padrões dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais, para que se empreste a aparência de legitimidade que assume.
A previsão era que Dilma falasse às 9 horas, mas a sessão foi só aberta pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, às 9h42. Dilma iniciou sua fala às 9h53. Entre os convidados de Dilma estavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o compositor Chico Buarque, que acompanharam o discurso na galeria da Casa.
Julgamento
Dilma está afastada há quase quatro meses, desde que o Senado aceitou o processo e Michel Temer assumiu interinamente a Presidência. Ele diz já ter os 54 votos mínimos necessários para ser confirmado no cargo. A petista é acusada de editar, em 2015, decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar dinheiro de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas pedaladas fiscais.