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‘Polícia Federal: a lei é para todos’

‘Polícia Federal: a lei é para todos’ (Marcelo Antunez, 2017) se propõe dois objetivos, bem difíceis de cumprir: o primeiro é ser um filme de ação, e o segundo é retratar uma operação inacabada. Porém, falha em ambos, não obstante conte com uma direção correta e a boa atuação de Antônio Calloni (a única decente).

A maior parte do filme se passa em salas fechadas, com protagonistas à frente de computadores ou papéis, buscando quem colocou o jabuti em cima da árvore. Como as poucas cenas ao ar livre não promoveriam um ritmo frenético, ainda que tenham sido bem realizadas, a saída foi utilizar-se do maniqueísmo. Há, claramente, mocinhos e bandidos, ou seja, de um lado a Polícia Federal e o Poder Judiciário (de primeira instância), e de outro os donos das empreiteiras e os políticos da Lava-jato. Para reforçar este dualismo, apenas os mocinhos passam por situações que os humanizam (mãe com câncer, conversas com os filhos e, vejam só, queimadura com pizza!).

 

Já os tais bandidos, nunca os vemos sozinhos em cena, somente pela ótica dos protagonistas. Ora, uma obra que se vende como retrato fiel dos acontecimentos não deveria privilegiar lado algum, mas é inegável que o faz, servindo de instrumento político para as próximas eleições (tal qual o filme ‘Lula – o filho do Brasil’, em 2010).

Por óbvio, não defendo a absolvição de criminosos, quaisquer que sejam e a qual partido pertençam, mas o filme não parece ter a mesma convicção, pois, enquanto seus personagens descrevem a operação como apartidária, também indicam Lula como o único responsável pelo tal jabuti na árvore. Ademais, uma interessante animação reconhece que a corrupção é histórica e não foi criada pelo PT, mas, ainda assim, o filme tem na condução coercitiva de Lula e no seu impedimento à nomeação como ministro os seus ápices, justamente na parte final.

Com isso, um lançamento cinematográfico de setembro de 2017 cobre a Lava-jato apenas até março de 2016, deixando de fora o áudio incriminador de Romero Jucá e Sérgio Machado, para estancar a sangria, com Supremo, com tudo; o impeachment da Dilma; ou mesmo o áudio entre Joesley Batista e Michel Temer, no qual este dizia tem que manter isso aí, sobre a relação daquele com Eduardo Cunha, que só aparece nos créditos finais, quando a maioria do público já foi embora.

Aliás, os créditos finais parecem querer redimir o filme destas falhas, ao indicar um ‘Polícia Federal – a lei é para todos 2’, depois de mostrar um vídeo da mala de 500 mil reais, que Frederico Pacheco, primo de Aécio Neves, recebeu do lobista Ricardo Saud. Que o segundo corrija os erros do primeiro, assim como o Brasil aprenda com o passado, e não com um filme cujo subtítulo parece se esquecer da seletividade da Justiça brasileira (e não me refiro a casos políticos, mas a processos mais reais, como os opostos Rafael Braga e Breno Borges – caso não os conheçam, por favor, pesquisem).

 

Sinopse:

‘Polícia Federal: a lei é para todos’ (2017)

Direção: Marcelo Antunez

Elenco: Antonio CalloniFlávia AlessandraBruce Gomlevsky mais

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

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