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“A pandemia atual é a que mais está tendo reflexos”, compara historiador de Ponta Grossa

Devido à velocidade da informação, à globalização e às opções de adaptações, a pandemia do novo coronavírus é, na história mundial, a que mais está refletindo na sociedade. Essa é a análise do historiador Yuri Sócrates Saleh Hichmeh, professor de Ponta Grossa de sociologia e filosofia e doutor em história, que nesta sexta-feira (19) concedeu uma entrevista transmitida ao vivo nas plataformas digitais no Diário dos Campos.

“A pandemia atual é a que mais está tendo reflexos do contexto de pandemia. Diversos setores da sociedade estão se reinventando através da internet e home office, por exemplo. O próprio capitalismo em si está mergulhado em contextos muito maiores [comparado a outros momentos históricos”, avaliou ele.

Entre as pandemias que, numa escala histórica, marcaram bastante a trajetória ocidental, o professor cita a peste bulbônica, na Idade Média, que matou um terço da população espanhola, a gripe espanhola, durante a Primeira Guerra Mundial, na qual estimam-se de 50 a 100 milhões de mortes – devido à guerra os números eram subnotificados e confundidos com o combate – e a AIDS, que principalmente entre os anos 60 e 80 se espalhou e se destacou por afetar diversas personalidades.

Quanto às semelhanças entre elas, o historiador cita as medidas preventivas de contágio. “Quando olhamos para a baixa Idade Média e o alastramento da peste, as condições sanitárias eram precárias e o inchaço dos meios urbanos depois das cruzadas e renascimento comercial favorecia a concentração muito alta de pessoas em meio à isso. Como a doença se passava através da pulga de ratos, o combate foi feito com medidas de saneamento, higienização e organização dos meios urbanos e cotidiano”, explica Yuri.

A gripe espanhola, há cem anos, também era combatida com atos como lavar as mãos e utilizar máscaras. “Infelizmente nós como seres humanos acabamos tendo um certo comodismo com o passar do tempo. Na época a medida de prevenção era a higienização e hoje nesse momento, também é”, lembra o historiador.

“A medicina teve no mundo ocidental saltos gigantescos no século 20, que se deram através de vacinas e medidas preventivas. Lidar com o número de infectados e mortos é fundamental para entender a dimensão da doença, impedir que ela se alastre e lidar com projeções para a sociedade de quando as atividades humanas poderão voltar o mais próximo à normalidade”, avalia Hichmeh.

Mudanças

Os maiores saltos tecnológicos da humanidade aconteceram em momentos de crise que demandaram necessidades, como guerras e pandemias. “Quanto mais medo o ser humano tem, mais ele consegue se moldar, se reinventar e criar novos hábitos e comportamentos. Ao final da primeira guerra, por exemplo, o capitalismo não necessariamente sofreu tanto devido à pandemia. Ainda que o mundo já fosse bastante globalizado e já tivesse conectado em termos econômicos – tudo que acontecia na bolsa de valores de Nova York afetava outras regiões – nos tempos de hoje com o dinamismo da informação o mercado sente muito mais uma situação como uma pandemia”, aponta o professor, lembrando que logo no começo da crise sanitária do novo coronavírus já se falava em preocupação com a economia e mantimento de negócios.

Percepção

O historiador também refletiu sobre como os fatos históricos gerados hoje serão retratados no futuro, daqui quatro anos por exemplo. “Enquanto estamos mergulhados neste momento não temos tanta clareza de quais serão os verdadeiros reflexos dele; basta a gente pensar que nas duas primeiras semanas de quarentena não imaginávamos que a pandemia iria se alastrar tanto assim. É completamente imprevisível falar por quanto tempo as medidas de isolamento social e uso de máscaras, por exemplo, irão durar”, afirmou ele, opinando que, nesta ou em uma próxima pandemia, medidas restritivas não deixarão de existir.

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