A Prefeitura de Ponta Grossa calcula que, aproximadamente, 30% dos estudantes – cerca de 5 mil usuários que possuem passe livre ou meia-passagem – tiveram o benefício bloqueado nesta terça-feira (23). E a estimativa não deve estar errada, já que a movimentação em frente ao terminal central de ônibus foi intensa desde as primeiras horas do dia. Perto da hora do almoço, a fila, que serpenteava pelo saguão de entrada do terminal, já dobrava o quarteirão. O que se via era um grupo grande de pessoas que contestava os motivos, formas e critérios para o bloqueio.
Isabel Dantas veio tentar entender como seus três filhos, com idades entre 12 e 18 anos, tiveram seus cartões bloqueados. "Cada um deles só usa duas passagens por dia, e não usaram nas férias, isso posso te dizer", comentou ela, que veio substituir a filha na espera pelo atendimento. A adolescente ficou na fila pela manhã, e a mãe ainda estava longe de chegar ao guichê de atendimento às 14 horas. Segundo ela, que veio do Jardim Alto Alegre para liberar os cartões, houve outras situações ainda mais preocupantes. "Vi um trocador mandando quatro crianças descerem do ônibus porque o cartão foi bloqueado. E se elas não voltam para casa e algo acontece, quem vai se responsabilizar?", questionou.
Rosângela Aparecida da Silva passou a hora do almoço na fila para obter novamente o benefício para seus três filhos com idade entre 12 e 17 anos. “Ainda não entendi o porquê do bloqueio. Para um dos meus filhos apareceu bloqueio de cartão, e para outro dizia saldo insuficiente, mas ele tinha saldo no cartão!”, disse.
Espera
Vários outros usuários questionaram a forma como o bloqueio foi realizado. Emanuele Pires é acadêmica de direito em uma faculdade de Ponta Grossa. Quando a reportagem a encontrou na fila, ela já estava esperando atendimento há cinco horas e afirmou não ter almoçado. “Peguei a senha 140”, contou, argumentando que não fez uso irregular do benefício, e que o sistema a impediu de voltar para casa na noite anterior. “Quando fui para a faculdade, o sistema informou que meu cartão seria bloqueado, e que eu só teria direito a mais uma passagem. Na volta, o outro ônibus já bloqueou meu cartão e me impediu de passar a catraca”, disse. Os principais motivos apontados para os bloqueios foram uso do cartão pessoal por terceiros e uso no período de férias.
Usuários apontam inconsistências
Em meio ao calor que fazia no saguão do terminal, uma mulher acabou passando mal e desmaiou. Precisou ser socorrida por ambulância do Samu. Enquanto camelôs tentavam vender água e espetinhos, cada pessoa relatava um problema diferente. Reni Vieira disse que o cartão que ele trazia na mão, e pertencia a sua filha de 15 anos, aparecia como inexiste no sistema.
Eliete Paes de Almeida teve o passe livre bloqueado porque usou no dia 16 de julho que, segundo a AMTT, foi período de férias. “Estão dizendo que eu vou ter que pagar multa, mas a faculdade postergou as férias que seriam nesse dia, em função da greve dos caminhoneiros. No dia 16 de julho eu estava em aula”, garante. Ninguém admitiu ter feito uso irregular do cartão.
Estudantes podem contestar bloqueio
Segundo Fernando Bueno, chefe da Divisão de Transporte Urbano da AMTT, o atendimento pessoal na AMTT foi somado à presença de servidores na fila, onde foram recolhidos e-mails de usuários para posterior contato com envio de relatório do uso indevido e boleto para pagamento de multa e restituição de benefício, além de atendimento por telefone.
Também estava sendo programado atendimento com horário agendado para a partir desta quarta-feira (24). Os que se sentirem injustiçados podem trazer documentação e interpor recurso questionando a suposta irregularidade. O bloqueio considerou um eventual período coincidente de férias de todas as instituições de ensino. Casos específicos serão analisados individualmente.
Os estudantes podem obter mais informações pelo telefone 3901-1539. As multas variam entre R$ 19 e R$ 38 (em caso de reincidência). No caso do passe livre, o benefício pode ser bloqueado pelo ano todo se houver três casos de uso indevido.