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Durante a pandemia, denúncias caem, mas tentativas de feminicídio aumentam em 12% no Paraná

Conforme um relatório divulgado no início de maio pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), desde que o governo estadual decretou as medidas de isolamento, em 16 de março, até o dia 23 de abril, os registros de inquéritos policiais que tratam de violência doméstica diminuíram 6%. Entretanto, houve um aumento de cerca de 12% nas tentativas de feminicídio e dos casos consumados. Isso demonstra que apesar das denúncias terem diminuído, a violência não cessou.

Em Ponta Grossa, desde o início de março até o dia 24 de junho, os boletins de violência contra a mulher, que foram registrados na Delegacia da Mulher do município, tiveram a diminuição de 40% em relação a esse mesmo período do ano passado. Porém, diferente de outras regiões do estado, não houve nenhuma tentativa ou caso consumado de feminicídio. “Em algumas outras cidades os números aumentaram nesse período de pandemia, mas na nossa cidade e região, felizmente não houve um aumento de ocorrências”, salienta a delegada Claudia Krüger, responsável pela Delegacia da Mulher de Ponta Grossa.

A delegada destaca ainda que a principal rede de enfrentamento da violência contra a mulher continua sendo as denúncias. “Primeiramente acionando o 190 ou 153, para uma possível prisão em flagrante do agressor. Para o registro do boletim, pode ser feito on-line, ou diretamente nas unidades policiais”, explica.

Em época de pandemia, a vítima passa muito tempo ao lado do agressor, o que pode dificultar na hora de entrar em contato com a polícia. Por isso, a denúncia de terceiros pode ser essencial para cessar com a violência. “Sempre os fatos denunciados serão verificados juntos a própria vítima”, enfatiza a delegada.

Se por um lado os boletins de violência contra a mulher diminuíram na Delegacia da Mulher, o trabalho realizado pela Patrulha Maria da Penha (PMP) da Guarda Municipal (GM) de Ponta Grossa foi intensificado. No período de fevereiro deste ano até este mês de junho, teve um aumento de 175,59% das mulheres que recebem acompanhamento da GM em relação a esse mesmo período do ano passado. Também foi registrada alta de 114,29% nos descumprimentos de medidas protetivas. Já as novas medidas protetivas recebidas pela fiscalização tiveram uma diminuição de 15,79%. Houve queda de 10% no atendimento para mulheres que não são acompanhadas pela PMP e de 61,91% nas prisões decorrentes de violência doméstica.

Gaslighting: violência que passa despercebida

Existe uma série de violências que costumam acontecer antes da violência física se apresentar. Segundo a Psicóloga Juliana Mariano Ribeiro, de Ponta Grossa, trata-se de um fenômeno social, complexo e multifatorial, de maneira que não se produzem isoladamente, mas fazem parte de uma sequência de situações. O abuso psicológico, ou gaslighting, é um dos fenômenos que antecedem a violência física. Trata-se de manipular a mulher psicologicamente para ter controle sobre ela, ao ponto de anulá-la, gerar inseguranças, dúvidas e medos. “A vítima fragilizada e em sofrimento além de demonstrar baixa estima pode apresentar diferentes sintomas, como exemplo: aumento da ansiedade, embotamento, adoecimento, distúrbios alimentares e do sono, consumo abusivo de substâncias (álcool e drogas), fobias, entre outros”, explica a psicóloga.

As vítimas, geralmente, apresentam dificuldade para perceber que estão sofrendo um tipo de abuso e, consequentemente, a denúncia deste tipo de violência é mais rara. “Normalmente, a pessoa violentada tende a negar, aceitar e/ou justificar as atitudes do agressor”, completa.

Juliana esclarece que neste caso é necessário, primeiramente, que a vítima reconheça a gravidade da situação em que está submetida para buscar ajuda de familiares e profissionais: “Se faz essencial o auxílio de um profissional capacitado e/ou de órgãos competentes. Tendo em vista a dificuldade que mulheres encontram para fazer denúncias de violência, neste sentido é importante a percepção de familiares e de pessoas próximas, para que denunciem e assim assegurem a vítima medidas de proteção necessárias.”

Ribeiro chama a atenção, ainda, para o período em que vivemos em relação à violência contra a mulher. Com a pandemia do novo coronavírus, mulheres estão em isolamento social com o próprio agressor, muitas vezes, em habitações precárias e com a renda diminuída. A consequência dessa situação é o aumento dos casos de violência familiar e a diminuição das denúncias, visto a necessidade de isolamento. “Deste modo cabe aos profissionais da rede de assistência e saúde oportunizarem acolhimento e escuta atenta deste público, fornecendo suporte e orientação sobre seus direitos”, enfatiza.

Reportagem produzida pelas estudantes do último ano de Jornalismo Bruna Kosmenko, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e Naiâne Jagnow, da Unisecal, estagiárias regulamentadas do Diário dos Campos.

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