O hospital Bom Jesus (HBJ) de Ponta Grossa interrompeu, no início desta semana, os atendimentos nos leitos da UTI coronariana, voltada a atendimentos cardiológicos. A informação foi checada pela reportagem do DC junto a integrantes da equipe médica interna do hospital, que confirmaram o fato. Conforme verificado, dos 20 leitos disponíveis, 10 eram voltados ao atendimento em cardiologia, e tiveram seu uso suspenso.
A medida teria sido adotada como consequência de dificuldades financeiras pelas quais a instituição passa, em especial no atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS), que geraram atrasos em pagamentos e instabilidade na manutenção da equipe médica. Parte dos profissionais já estaria com salários atrasados em, pelo menos, três meses. A situação teria obrigado a dezenas de demissões e desligamentos voluntários, o que vem causando uma defasagem nos atendimentos e obrigando o hospital a realizar ajustes para evitar a interrupção de outros serviços.
A interrupção da UTI coronariana se segue a outras ações que dão indícios de uma grave crise financeira, a respeito da qual a instituição não fornece detalhes. O ex-diretor técnico do Bom Jesus, Dr. Marcelo Ferraz de Freitas, deixou o cargo há cerca de duas semanas, após 13 anos na função. Antes, detalhou a veículos de imprensa algumas das dificuldades enfrentadas rotineiramente, e informou que, entre as ações adotadas pela administração esteve a venda do edifício localizado ao lado do hospital. O plano de saúde pertencente ao mesmo grupo segue atendendo no prédio, porém pagando aluguel.
Contato
O DC entrou em contato com o novo diretor técnico do HBJ, Marco Moutinho, que informou não ter detalhes sobre a situação financeira do hospital. Essa é a área de atuação, segundo ele, do diretor financeiro, Basílio Galvão, com quem a reportagem não conseguiu contato. O hospital informou que apenas a irmã Margarida, diretora geral do HBJ poderia se manifestar sobre o assunto, mas que ela está em viagem, e retorna na próxima semana.
Alimentos
O tema foi exposto em reportagem exibida por emissora de TV nessa quarta-feira (11), o que sensibilizou um empresário de Curitiba, que se propôs a doar um caminhão de alimentos para auxiliar na manutenção das atividades do HBJ. Os produtos seriam entregues no mesmo dia. Em paralelo, desde o ano passado o hospital vem realizando campanhas e bazares para a arrecadação de fundos, e cuja divulgação ocorre nas redes sociais da instituição. O Bom Jesus é considerado referência em atendimentos na cardiologia, neurologia (média complexidade, pois se descredenciou de alta complexidade em fevereiro), cirurgia cardíaca e cirurgia vascular.
Colaboração
O Hospital Bom Jesus está com uma vaquinha on-line iniciada há pelo menos seis meses, com o objetivo de arrecadar fundos. A meta é obter R$ 40 mil, mas até o momento foi obtido pouco mais de R$ 8,5 mil, com 94 apoiadores. Quem quiser colaborar pode acessar o link na página do hospital (hbj.com.br). A instituição atende há mais de 50 anos, para moradores de mais de 30 municípios da região.
Sesa não foi comunicada
Em nota, a Sesa informou que, desde o ano passado, sabendo das dificuldades financeiras do HBJ, tem dado apoio à instituição, tendo liberado R$ 1.050.000,00 para aquisição de um tomógrafo (out/2019) e, por intermédio da direção da 3ª Regional de Saúde, apresentando propostas visando sua sustentabilidade. “As informações oficiais da instituição dão conta de que os serviços de cardiologia não seriam descontinuados. Aguardamos um posicionamento oficial da instituição e estamos redirecionando os pacientes via Samu ou Central de Regulação de Leitos para os estabelecimentos com condições de atendimento, sem prejuízo aos mesmos”, detalha a Sesa. O órgão acrescenta que, se for confirmada descontinuidade do atendimento em cardiologia, irá transferir a demanda a outro estabelecimento.