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Idomar Cerutti: o homem por trás de 255 mil livros

“As coisas foram acontecendo”, diz Idomar Augusto Cerutti, que procura ver com naturalidade um feito notável atingido em apenas seis anos, por meio de um projeto que disponibilizou 255 mil livros para leitura, em uma modalidade que ainda era inédita na região de Ponta Grossa. O interessado pega um livro em uma estante instalada em local de grande circulação de pessoas, fica o tempo que precisar e, quando concluída a leitura, devolve em um dos pontos de coleta para que possa ser lido por outra pessoa. É o projeto Pegaí Leitura Grátis, que Idomar idealizou e pôs em funcionamento.

Claro que não fez isso sozinho, teve ajuda de muitas pessoas, e ainda tem. Mas a coisa começou tímida. “Eu sempre quis ter uma caixa num canto com livros, e uma forma de compartilhar. Mas, na correria do dia a dia, a gente foi deixando pra depois. Um dia vi uma reportagem sobre um projeto no qual um grupo de motociclistas distribuía livros em uma bicicleta, e me deu o estalo”, recorda.

Idomar procurou amigos, pediu a doação de livros, convidou possíveis voluntários e, em 20 dias, tinha uma logomarca e uma propaganda de 27 segundos exibida em emissoras de TV locais. No início havia receio sobre a viabilidade da proposta. Os leitores não precisavam fazer nenhum cadastro, não havia multa se o livro demorasse pra voltar ou não fosse devolvido, e houve quem achasse que a proposta era doação de livros.

“Mas não somos biblioteca. Não somos livraria”, explica Idomar. “Foi preciso alterar o nome do projeto, que era Pegaí Livro Grátis. Não era o livro que era grátis, era a leitura”, recorda. Campanhas constantes, visibilidade na mídia e a formação de parcerias, inclusive com uma rede de supermercados, permitiram que as coisas ficassem mais claras e o projeto avançasse, não apenas no sentido figurado. As ações atravessaram os limites do município.

 

Expansão

O projeto se tornou instituto, e hoje são 58 estantes em 11 municípios do Paraná. Doze, se contar a nova estante em instalação em Telêmaco Borba. Mensalmente, são doados ao projeto cerca de 1.500 livros, que recebem o carimbo de identificação nas páginas. Outros já vêm com a logomarca na capa, já que o Instituto Pegaí passou a publicar os próprios livros. Desde 2016, o projeto é considerado de utilidade pública pela Câmara Municipal de Ponta Grossa, o que o credencia a estar vinculado à Fundação Municipal de Cultura e receber verba para as atividades. Outra fonte de recursos é o programa Nota Paraná, e muito do que é realizado ocorre graças à participação dos 172 voluntários devidamente treinados para cada atividade responsável por manter a rotatividade que o projeto exige.

São 255 mil livros carimbados pelo projeto (Foto: Fábio Matavelli)

Formação

O riso contido de Idomar pode ser uma das razões para o sucesso do projeto. Só com muita seriedade uma iniciativa sem fins lucrativos pode dar certo. Embora seja preocupado com a precisão das palavras – o projeto Pegaí “disponibiliza”, mas não “distribui” livros – a formação de Idomar é voltada para os códigos binários. Professor universitário da UEPG no curso de Engenharia de Computação e de Engenharia de Software, ele vê algumas pessoas admiradoras do projeto se surpreenderem ao saber disso. “A maior parte das pessoas pensa: o Idomar é jornalista, tem tipo de ser historiador, o cara deve ser de Letras”, brinca.

 

Infância

Mas talvez o surgimento do projeto tenha mais a ver com quem foi Idomar na infância. Apresentado a livros de difícil compreensão, e que precisavam ser lidos por obrigação, ele demorou a gostar de ler. O projeto que fundou procura, justamente, mostrar outra forma de olhar para os livros. Não é para oferecer livros de estudo, mas para ensinar o prazer da leitura espontânea a todas as idades e onde quer que se esteja. Nesse aspecto, a intenção vem rendendo frutos. Mesmo em cidades nas quais o projeto ainda não chega é comum encontrar quem já saiba do que se trata. Se uma pessoa for capaz de jogar um dos livros do projeto no lixo, um gari que reconheça a logomarca fará questão recolher e entregar em um dos pontos de coleta. E é essa corrente do bem que vem se tornando mais forte a cada dia.

 

“Se a gente arrumar um leitor para um livro que antes estava parado, já terá sido um ganho” – Idomar Cerutti, nascido em Xanxerê (SC) há 50 anos, escolheu viver em Ponta Grossa desde 1986. Se considera ponta-grossense e realezense, já que cresceu em Realeza (PR), onde ainda vivem sua mãe e seus irmãos.

 

Este texto integra a iniciativa do Diário dos Campos de participar da gincana municipal Princesa em Festa, cumprindo a segunda parte do item “escrever e ilustrar a história de três importantes ponta-grossenses”, como forma de marcar o aniversário dos 196 anos de Ponta Grossa.

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