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Limites do humor: necessário ou mimimi?

O questionamento sobre quais são os limites do humor é bem mais antigo que a expressão “mimimi”. Mas a pergunta do título faz humor com o próprio questionamento, já que o termo mimimi satiriza quem reclama, fazendo rir com aquilo que alguém aponta como ruim.

Na prática, os limites do humor existem, mas são tão subjetivos que mudam conforme a pessoa que o analisa, a pessoa que o pratica, o local onde ocorre, a legislação de um país ou o contexto de uma forma geral.

O DC traz aqui a opinião de alguns dos mais importantes profissionais do humor gráfico paranaense para tentar responder ao questionamento: onde termina a liberdade? Ou onde começa o mimimi?

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Roque Sponholz: meu limite é a liberdade de expressão

O chargista e caricaturista Roque Sponholz é facilmente reconhecido pelos seus traços ou seus espessos bigodes brancos. Ao longo dos últimos anos, concentrou a maior parte de seus trabalhos em humor gráfico na crítica à conduta de políticos apontados como corrupto, focando as piadas nos integrantes do partido PT. Sponholz acredita que limitar o humor é o mesmo que limitar a liberdade de expressão:

“Não há humor de qualquer espécie, gráfico ou não, se não houver liberdade de expressão. Portanto não há limites para o humor, principalmente quando se critica ou se satiriza uma figura pública que deve satisfação pelos seus atos. Como sempre digo, (…) charge sem crítica, seja ela aos costumes, ao meio ambiente, ao esporte, ao cotidiano, aos governos, aos santos, diabos e tiranos, etc., não é charge; é piada de salão”.

 

Mas, mesmo se apoiando na liberdade de expressão, a Constituição Federal impõe limites, e isso ocorre já quando a palavra “livre” é citada. “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. Ou seja, quem for fazer humor, só tem esse direito se o fizer mostrando o rosto ou assinando o trabalho. Soma-se a isso a máxima: “seu direto termina onde começa o do outro”. Significa que o humor deve ser feito se não implicar em difamação, calúnia ou injúria, por exemplo. Nesses casos, não há impedimento, mas há consequências legais.

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Benett: estabeleço meus próprios limites

Em uma de suas entrevistas, concedida à Mórula Editora, o cartunista Alberto Benett, procurou explicar o que achava dos limites no humor. Autor de inúmeros personagens, incluindo Amok (desenho que ilustra esta reportagem), criança que odeia todos e quer matar colegas de classe, ele vê como limite seu próprio julgamento.

“O meu limite é se acho relevante ou não. (…) Prefiro ter menos leitores e ser menos popular do que publicar tiras mais violentas e apelativas. Não porque eu ache isso imoral ou politicamente incorreto. Mas porque, dentro do que quero dizer, isso não tem relevância nenhuma. Não me interessa mostrar o Amok cortando os colegas de classe ao meio com uma serra-elétrica. Mas sim os motivos que o levariam a fazer isso”.

Ou seja, ou autor procura ter bem claros quais são seus próprios limites, e não os limites do humor. Aquilo que ele não desenha é, aparentemente, aquilo que também não diria em público. Ele não se atém ao item liberdade de expressão, mas estabelece o próprio estilo tendo como objetivo apresentar um reflexão sobre o que motiva a violência ainda na juventude das pessoas.

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Pryscila Vieira: rir é uma via de mão dupla

Pryscila conquistou notoriedade, principalmente, com sua personagem Amely. A boneca inflável que criou vida serve como forma de criticar a sociedade (ainda) machista que espera ver “Amélias” em todas as mulheres. Seus cartuns tematizam, entre outras coisas, o relacionamento entre homens e mulheres, fidelidade, estética e, muito sexo.

Justamente por isso, Pyscila responde ao questionamento sobre liberdade com uma rapidinha… Uma resposta rápida enviada via twitter: “Acho que o limite é o respeito mesmo. Outro dia ouvi que humor tem que ser igual sexo: todos os envolvidos têm que terminar a piada rindo. Acho que é por aí…”

Ao fazer isso, ela reconhece outro critério possível para os limites do humor: não adianta nada se apenas quem faz a piada acha graça. É preciso que quem recebe a piada também perceba o humor. Para ela, se um cartum resultou em mais protesto, indignação ou reclamação do que riso, é porque a obra não surtiu o efeito esperado. É preciso respeito com as pessoas com que a tentativa de humor é compartilhada.

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Os profissionais de humor estabelecem seus limites, ou vivem com as consequências de produzir humor sem qualquer tipo de restrição. Mas cabe a cada um que lê uma tira em quadrinhos, assiste a uma peça de teatro, vê um filme ou escuta uma esquete de rádio, perceber qual é seu próprio limite.

Uma vez compreendido isso, sempre é possível deixar de abrir um álbum e tirinhas, evitar uma peça de teatro, não recomendar um filme ou desligar o rádio naquele programa de humor de que não gosta. O resto, talvez, seja mimimi.

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