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A Pinguela

Por Laércio Lopes de Araujo – [email protected]

 

Todos sabemos que a Ponte para o Futuro proposta por Michel Temer como programa de governo não se parecia com a Golden Gate, mas que se pareceria mais a uma pinguela sobre o precipício, nem o mais empedernido pessimista poderia ter previsto.

Caso é que Henrique Meirelles realmente não tem mais a menor noção de como gerir a economia do país. Numa semana anuncia o aumento do imposto de renda penalizando fortemente a classe média e comprometendo a já fraca recuperação da economia.

Desautorizado pelo presidente, faz passar uma medida provisória que dá aos ruralistas, os mais fieis eleitores do governo no Congresso, uma benesse que transfere dos cofres públicos para os cofres das oligarquias mais de 10 bilhões de reais.

Ora, se somarmos os 10 bilhões que deixam de ser tungados à classe média, mais os 10 bilhões de presente aos mais ricos, temos que ficam faltando 20 bilhões de reais para fechar as contas. Obviamente que se o déficit esperado era de 139 bilhões de reais, o que já era uma enormidade, mais a frustração de receita, mais os benefícios que compraram a permanência do presidente Temer na condução do governo, temos algo como 159 bilhões, que é o novo déficit orçamentário proposto pelo ministro.

O Congresso, cidadãos, o Congresso deseja aumentar a meta orçamentária negativa para 170 bilhões. Por quê?

Ora, há que financiar o fundo partidário que ficará entre 3,6 e 8 bilhões de reais, há que liberar novas emendas parlamentares, há que distribuir dinheiro em ano eleitoral para que a máquina funcione, como deve, para perpetuar o status quo.

O Brasil sempre foi um país de contrastes, quando o governo nega alguma coisa é porque a coisa é exatamente como foi negada. Assim, o ministro Imbassahy nega que haja pressão por um déficit maior mas, o ministro da Fazenda dize que não pode tolerar um déficit só superior a 20 bilhões do que aquele aprovado no ano anterior.

A questão é: por quê temos uma lei orçamentária se é para não cumpri-la? Quão vergonhoso é, como no último governo Dilma, aprovar uma nova meta nos últimos dias do ano? Bom, para um governo que não punha metas, mas que ao atingi-las dobraria as metas, talvez toda esta loucura multívoca, toda esta algaravia sem sentido, seja realmente a melhor descrição do absoluto desgoverno do barco chamado Brasil.

A ponte para o futuro anunciada pelo PMDB como proposta para gerenciar o Brasil foi muito bem descrita por FHC como uma pinguela. Mas, ninguém anunciou que a pinguela estava sobre um precipício e que o cordame que a sustenta está puído, envelhecido, roto, desprovido da capacidade de sustentar o peso das necessidades de um homem, quem dirá de 210 milhões.

Como, neste espaço, havia previsto, o Congresso só tem olhos para a Reforma Política, que não é reforma e muito menos política. Mas antes uma forma de agravar e piorar o espaço da cidadania, um alijamento do voto. Um monstrengo aleijão que só faz agravar o que já é ruim.

Rodrigo Maia acredita que tudo é culpa da previdência. A sua reforma saneará o país. Tudo se resolverá num passo de mágica, quando os brasileiros tiverem que trabalhar até os 70 ou mais anos de idade, sem qualquer garantia.

Acredito que ele deva acreditar nisso. Pena que não seja capaz de perceber que há ministérios demais, estatais demais, cargos em comissão demais, benesses para os oligarcas demais, Estado demais.

Acredito mesmo que ele seja incapaz de perceber que o problema é termos cidadania de menos, povo de menos, democracia de menos e honradez de menos.

Quanto tempo para a pinguela rebentar?

 

 

O autor é médico e bacharel em direito formado pela Universidade Federal do Paraná, atua em psiquiatria há 27 anos, Mestre em Filosofia e especialista em Magistério Superior.

 

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