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Agnus Dei

Havia um pequeno povoado numa cidadezinha do interior do Paraná. Esse era constituído de gente simples, trabalhadora da roça possuía apenas uma opção para suas compras, fosse de alimentos, roupas, calçados, materiais de construção ou utensílios domésticos. A venda “Três Pinheiros: secos e molhados” operava raramente com venda à vista, pois as compras em sua maioria eram marcadas no caderno.

Depois da igreja e rodoviária essa venda era o local mais movimentado do lugarejo. Diariamente nos finais de tarde, os amigos encontravam-se para tomarem sua pinguinha, jogar conversa fora e comprar alguma precisão ou doce ou pirulito para seus filhos. No dia 1ª de cada mês era uma movimentação louca no Três Pinheiros. Tratava-se do dia de pagamento tanto dos aposentados, como dos recebimentos dos trabalhadores.

Com poucas novidades por lá, qualquer pessoa diferente que aparecesse, ou acontecimento fora do comum, bastavam poucos passos e todos já sabiam. Além disso, chamava atenção do povo os vendedores que raramente por lá aventuravam-se. Não tanto os vendedores em si, mas os produtos, especialmente se tivessem utilidade ou fossem curiosos e intrigantes.

Uma das pessoas que obteve muito sucesso por lá foi um vendedor de ursos de pelúcia gigante. Aliás, na verdade esse jovem trocava os ursos por cordões amarelos, brincos ou alianças. Aconteceu que bastou uma criança ver aquele enorme bicho nas costas do negociante e já quis para si. Os pais fizeram pouco caso até sua filhinha fazer um escândalo que queria aquele bicho enorme. Ninguém aguenta criança choramingando e seus pais aproximaram-se do homem.

– Quanto custa esse urso?

– Não estou vendendo senhor. Estou trocando. Imediatamente o pai da menina quis saber o que teria que dar em troca do urso. O comerciante sorridente afirmou:

– Pode ser brinco, anel, aliança ou qualquer coisa desde que seja amarelo. Eu só preciso dar uma olhada antes e aí negociamos. A mãe da menina adiantou-se e disse que havia um velho anel que há muito tempo havia guardado, parece que havia sido de seu falecido pai.

– Pode ser! Posso ver? O pai da menina, pândego, correu sorridente dizendo que as coisas do falecido sogro sabia direitinho onde estavam. E de fato, encontrou aquele robusto anel com uma pedra azul que fez os olhos do barganhista brilharem. Negócio fechado! Ambos felizes. Seguiram seus caminhos.

Paulatinamente o povoado tornou-se alvo de diversos comerciantes que levavam apetrechos interessantes por lá. Um outro vendedor que lançou sua sorte por lá foi um negociador de bijuterias.

Logo que chegou a rodoviária que era numa velha garagem da cidadezinha, o vendedor chamou atenção das pessoas. Não estava bem vestido, mas possuía um dente de ouro, os braços cheios de correntes e um relógio que reluzia tamanho seu brilho.

Assim como os demais novatos seguiu até o Três Pinheiros. Logo pediu uma branquinha e abriu sua mala com o mostruário de suas peças. Os pinguços que estavam por lá perguntaram o que tinha de especial naqueles produtos. O vendedor colocou o copo na mesa, limpou a boca com a mão e disse o seguinte:

– Observem que nessas correntinhas têm um coração como pingente que está escrito Agnus Dei. E dentro dele há um segredo muito especial. Ao dizer isso, os homens quiseram saber o que significava Agnus Dei e que segredo era aquele. O vendedor disse:

– Agnus Dei, significa Cordeiro de Deus, ou Jesus Cristo, mas o segredo nem eu sei o que é. A única coisa que posso afirmar é que as pessoas que comprarem essa maravilhosa peça somente poderão abri-lá quando estiverem diante de uma situação extremamente difícil, pois dentro do coração terá a resposta para qualquer problema.

Um dos que estavam na venda Três Pinheiros, casado de novo, interessou-se pelo produto. Daria como presente a sua jovem esposa. Os outros homens fizeram piadas com ele, quiseram convencê-lo a não acreditar naquela bobagem, mas não adiantou, ele a comprou mesmo assim.

Ao chegar em casa, sua esposa veio ao seu encontro e o beijou como sempre fazia. O jovem então pediu a mulher para fechar os olhos e logo em seguida, carinhosamente colocou o presente embaixo de seus cabelos cheirosos e encaracolados. A jovem ficou emocionada com o presente. O marido explicou detalhadamente o significado do coração.

A moça que ainda estava na lua de mel, jamais imaginaria grandes problemas em sua vida, assim, nem precisaria abrir aquele lindo e meigo coração daquele presente. Mas, infelizmente problemas acontecem em nossa vida e cada um o encara com de um tamanho. Passados 7 anos de casados eis que surge um grande problema na vida dessa jovem.

Por noites e noites chorava em silêncio. Durante dias e dias passava horas e horas angustiada. O que faria? Como solucionaria aquele problema? Precisava resolvê-lo!

Procurou de todas as maneiras solucioná-lo, sem sucesso. Pensou e repensou. Refletiu e meditou. Lembrou-se enfim, do lindo pingente em forma de coração com a inscrição Agnus Dei que havia ganhado do amado marido. Lá estaria a solução do problema.

A princípio hesitou em abrir o lindo coração prateado. Esperou o marido ir à roça e silenciosamente a tirou do pescoço. Depois, pegou o coração e o segurou firmemente em suas mãos suadas e trêmulas. Mentalizou que ali estaria a solução.

Calmamente, forçou e forçou a abertura do pequeno coração. Finalmente o pingente transformou-se em duas partes e em seu interior saltou um pequeno papel enrolado que caiu no chão. Ela subitamente o segurou e desenrolado rapidamente queria ver o que havia escrito. Com letras itálicas havia três palavras: “você é capaz”.

A moça abriu um sorriso no rosto, colocou a correntinha sem o coração em seu pescoço e seguiu feliz sua vida.

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