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ANIVERSÁRIO DE CRIANÇA

Não lembro muito das minhas festinhas de aniversário de quando eu era criança. Das que lembro, sempre eram muito simples. Um bolo retangular escrito PARABÉNS, brigadeiros, coxinhas, cachorro-quente, tubaína ou gasosa como falamos por aqui (porque Coca-Cola era somente em festa de ricos), chapeuzinhos em forma de cone (nunca entendi o porquê desses chapéus), balões cheios no sopro, e pouco mais do que isso. Tudo feito em casa e tudo com muita intimidade. Não tinha cama elástica, nem infláveis, nem pintura facial, nem atendentes, nem roteiros. Os presentes eram baratos basicamente consistiam em brinquedos, quando queriam agradar a criança, ou em roupas, quando queriam agradar os donos da casa. Mas tinha um ingrediente que sempre sobrava: diversão. Crianças correndo de um lado para o outro, comendo e bebendo até a barriga ficar inchada e os cantos da boca vermelhos por causa da gasosa de framboesa. As mães conversando em uma mesa, falando sobre a educação dos filhos, e os pais, na maioria das vezes, ausentes das festas. A gente ia para casa exaustos, caía na cama e dormia o sono dos justos. Isso era num tempo em que só o olhar da mãe nos dizia muita coisa, e mesmo sem saber o que estávamos fazendo de errado, mudávamos de atitude na mesma hora. As festas eram sempre aos domingos no período da tarde, e sempre terminavam quando a noite caía. As mães levavam para casa um prato de salgadinhos e um pedaço de bolo.
UMA NOVA INDÚSTRIA
Atualmente a realidade de festas de aniversário mudou muito. Tornou-se uma nova oportunidade de negócios. Dependendo da classe social são feitas festas para comemorar o MESNIVERSÁRIO da criança, que nada mais é do que comemorar os meses de vida de um bebê até ele completar o primeiro ano de vida. Com menos de um ano, a criança já vai ser considerada arroz de festa. Já vai poder fazer um arquivo vivo de modelos de convites para aniversários, ou melhor, mesniversários. As festas passaram a ser superproduções. Você chega e tem uma atendente que pega o presente (você não entrega para a criança), anota seu nome numa lista e joga o presente em uma caixa. Dentro da festa as crianças são separadas das mães. As primeiras vão para um playground fechado e controlado por atendentes, e as segundas vão para um salão. A festa tem um roteiro solene, com hora marcada para tudo. Que horas se canta o ‘parabéns para você’ para o aniversariante, quando podem comer docinhos e em que momento será cortado o bolo. Estive num aniversário onde foram servidos pratos quentes como escondidinho, camarão e outros quitutes, para os quais meus filhos e os filhos dos outros torcem o nariz. Nem uma coxinha… Para os adultos serviram cerveja, vinho, whisky e frisante.
FOCO NAS CRIANÇAS
Nos meus tempos era impensável servir bebida alcoólica em festas de crianças, para não dar o mau exemplo. Na sociedade moderna, não ter a bebida não é bem visto. Lembro do aniversário de 15 anos da filha de um amigo meu, que ele se recusou a servir bebida alcoólica por ser festa de menor de idade. Todos foram embora 10 horas da noite e a festa acabou.  Tenho dois filhos pequenos e eu e minha esposa gostamos de fazer festa de aniversário para eles. Mas fazemos no quintal de casa. Colocamos bebidas e comidas pensando no que as crianças gostam. Colocamos pais e mães juntos com os filhos. Não tem bebida alcoólica. E não tem solenidade, as crianças podem comer os docinhos e salgadinhos antes da hora, sendo que a única espera é para cantar parabéns juntos. Organizamos brincadeiras envolvendo as crianças, para que possam se divertir, correndo e pulando, e indo para casa suados, exaustos e com um cordãozinho de sujeira no pescoço. Não sei se estamos certos, se nossas festas são bem-vindas ou bem vistas, mas tenho certeza de que as crianças terão boas lembranças de seus aniversários.
 

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