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Aportando na Estação Arte

 

Arquivo DC

Estação Arte volta a ser um espaço cultural

 

Outono, inverno, primavera e verão. A arte fez sua estação? Viceja e fenece em cores e introversão. Ousou expressar em tons e em formas as notas da criação? Talentos individuais que informam: é hora de receber de volta o que já foi outrora. Entregue novamente às mãos da área de cultura o charmoso prédio da Estação Arte. O espaço foi construído em 1896, onde, no século XIX, as cargas permaneciam e aguardavam a partida pelas Estradas de Ferro Curitiba – Ponta Grossa e São Paulo – Rio Grande.  Como enamoradas ao complexo, as construções hoje chamadas de Estação Saudade e Casa da Memória. Cem anos depois, em 1996, o prédio se tornava um espaço cultural para receber exposições, oficinas e mostras de artistas. Tamanha a graciosidade e relevância da edificação, que em 2002, foi tombada pelo patrimônio histórico municipal. Estranhos percalços levaram a construção a outros desígnios e atribuições, passando à Secretaria de Abastecimento, em 2007, para abrigar o Mercado da Família. O que significa abastecer? Do que as famílias necessitam nutririam também o gosto pela arte? O alimento do espírito acaso também supriria o corpo?

Do renascentismo, os mestres da história da arte trouxeram a perspectiva, converter em bidimensional o que é tridimensional, a profundidade do espaço redutível ao plano. Engano a olhos vistos ou realismo traduzido? No cubismo, um mundo visto na totalidade das formas possíveis em movimento e dinâmica reais. Na visão bi-ocular de Pablo Picasso, a abrangência visual em ângulos mais amplos. Qual a perspectiva real para a arte em nossos tempos? Se o mundo acabasse com aviso prévio, muitos correriam para tentar salvar, antes de tudo, o acerco cultural nas obras de arte. O quadro Os Jogadores de Carta, de Cézanne, foi comprado em 2011, por 260 milhões de dólares. Arte não tem valor? Dois quadros da série Nenúfares, de Claude Monet, foram arrematados por mais de 50 milhões de dólares cada um. Qual o valor de cada aguapé impressionista pincelado?

Há os que assim se percebem como artistas e os que se envaidecem no parecer ser. Entre o crer ser e o expressar paira a genialidade no talento individual perceptível pelo coletivo. Seria figurativa essa ideia? A tentativa de abarcar a realidade? Um pensamento acadêmico ou uma abstração total? Da reprodução fidedigna ao mote espiritual? Sei que aguardei na estação, esperei pelo trem, espraiei no além-mar. Era a vontade no afã de expressar o que vem da alma, tela viva que faz criar. Nas plataformas, espero o embarque além da saudade, nostalgia e amor convertidos em traços. A arte espera na estação pelo trem que não vem? Após oito anos de reclusão, a Estação Arte abandona a saudade e retoma à arte, vocação primordial e legado maior, acastelando como guardiã do passado dos pioneiros nas artes plásticas e prospectando os passos futuros. “Da mesma maneira que a criança nos imita em seus jogos, o pintor imita o jogo das forças que criaram e criam o mundo” – Paul Klee. Se há valor, é o mesmo que procura e expressa a essência da vida.

Renata é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais e da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes.

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