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Casa Santa

É possível aquilatar o imponderável? Paciente terminal, neonato precoce, quem deixa o mundo e quem mal chega, intertece a mesma sorte? É a casa quem cura ou o enfermo que, na acrimônia, um dia, se deixa depurar? Passos apressados no corredor, vida e morte que ardem com o mesmo fervor onde a urgência é a senhora das horas. “Fiz tudo certo e ele se foi!”. “Não havia mais esperança alguma e, mesmo assim, o doente resistiu!”. O mar da vida é sempre bravio, também calmaria em remansos doces. A misericórdia como alvo das virtudes humanas, caridade no coração latente. A percepção sobre a dor do outro ensinando a lapidar emoções, compreensões, vidas sem distar. É Deus quem perdoa ou no homem ressoa a ânsia por se enlevar? O amor é primevo e dos gêneros, na dor, se faz equiparar.

 

Construção antiga e posterior fundação remetem ao ano de 1912, em patrimônio, agora, tombado pelo município de Ponta Grossa. A beleza se deixa revelar na assinatura das datas. Pavilhão lateral mais novo também se anuncia em referência ao ano de 1927. Os espaços culturais são locais sempre apreciados na promoção de eventos diversificados e vívidos, contudo, o que dizer quando o ambiente abriga os enfermos, os acidentados e, principalmente, os que requerem os cuidados mais delicados… Felizmente a casa que cuida também é cuidada e mantém sua arte em edificação bem preservada.

 

No ato de misericórdia sempre estiveram à frente os mais nobres exercícios humanos. Em seu livro “O significado oculto do perdão”, Sergei O. Porkofiejj discorre que a essência espiritual humana só pode ser influenciada positivamente por um elemento espiritual ainda maior. Um ato de perdão verdadeiro provoca, no fluxo da memória do indivíduo que perdoa, uma “interrupção” ou “esquecimento” através do qual podem afluir forças espirituais superiores, processo contínuo de purificação e espiritualização. Raro momento capaz de erigir um novo ser humano elevado aos princípios do amor ao próximo, sinonímia de valor cristão.

 

O ambiente do hospital, para muitos, abriga, dos que já partiram, os lamentos e os sofrimentos impregnados em paredes abnegadas. Carrega, contudo o portal do nascimento aberto aos bem-vindos que chegam nos momentos mais precisos. No fluxo de vinda e partida, na Casa Santa, afortunadamente, o passado e a arquitetura não precisaram implorar por clemência, mantendo graça e memória entre dores, mazelas e superações.

 

Na atualidade, no derredor bem urbanizado, custa pensar que, no passado, a Casa Misericordiosa ficava longe do centro, oferecendo nostálgico afastamento àqueles resguardados em doenças nubilosas por vezes de diagnósticos incertos. O que sempre afligiu o homem segue como substância para a melancolia poética. No eu lírico, todo o vigor estético de conteúdo subjetivo e gótico, clamando para o que se projeta além do corpo abatido e sofrido nas agruras. A arquitetura da Casa Santa cura os olhos e a alma que dançam e pousam entre suas janelas.

 

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