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Cine Teatro Ópera – Fênix mítica

Cássio Murilo
Cine Teatro Ópera, valioso espaço cultural de Ponta Grossa

Diante da perspectiva da morte, uma esperança que acende em chamas, fogo que consome a carne e, das cinzas, surge, renovada, a fênix mítica. Como o próprio sol que morre no poente para ressurgir na manhã nascente. A continuidade da vida, que se transforma, renova e sempre vigora.

O coração bate no alto, na porção superior do corpo, acima da fornalha onde ardem os processos metabólicos alimentares. Na cidade, onde bate o coração? Em Ponta Grossa, na década de 40, o coração batia entre as ruas XV de Novembro e Augusto Ribas. No ápice do centro comercial onde foi erigido o Edifício Ópera, marco, em art-deco, da verticalização que chegava aos Campos Gerais. O primeiro veículo de elevação instalado no município. O mesmo nome atribuído ao cinema, junto ao prédio e inaugurado em 1950, década que adentrava requintada e vibrante em transformações sociais, tecnológicas e culturais.

No filme e no espetáculo, quem é mais atuante, o ator ou o espectador? Quanto do movimento interpretado marca na mente de quem assiste? De tão comovente a imagem incita para além do que está latente.

O final da década de 90 trouxe o fechamento do Cine Ópera, tanto quanto se extinguiram diversos outros cinemas por todo o país. O casamento perfeito entre a música e o teatro, a ópera, fazia jus, agora, a uma composição dramática vivenciada pela casa homônima. A poltrona senta-se e espera. Conforta-se a si mesma em tão longa reserva. Teme pelo silêncio, aterroriza-lhe a ideia de uma vida só em lamentos, em anseios que não tomam tento. Espera é passiva? Ação se espraia na espera? O vão dos tormentos.

A Fênix-Ópera, num dia de 2001, acordou com seu nome incluído na lista do programa “Velho Cinema Novo”, do governo do Paraná, reformando e fazendo luzir à vida antigos cinemas e teatros. Um voo soberano para arrebatar plateias neófitas extasiadas. As obras duraram quatro anos, sendo o palco, tristemente, de tragédias acidentais, incluindo um incêndio. A majestosa ave, novamente, soube se recompor e, fulgurante, ressurgiu como o mais atuante espaço cultural de Ponta Grossa. O drama se converteu em épico com pompa e circunstância, onde laboriosa música instrumental e canto convergem em palco repaginado.

Fênix, esperançosamente, também foi o nome atribuído à cápsula que retirou, um a um, os 33 mineiros presos na Mina de San José, a 688 metros de profundidade, no Chile, em 2010. Tão profundas as entranhas da terra, que, na imagem de cada homem trazido à superfície, o arquétipo da ressurreição da fabulosa ave, das cinzas.

Hoje, eventos nas mais diversas disciplinas culturais eclodem na casa operesca, apresentações teatrais, musicais, projeções em telas alternativas que fissuram o gosto pela originalidade. Por sorte de teor ascensional o mito do pássaro cultuado entre egípcios, chineses e gregos, tão vivo quanto o próprio sol, insiste em se fazer presente. Apenas uma única ave mítica existe em cada época, Ópera-Fênix, teu canto é doce e melancólico, beleza que ascende.

 

Autora: Renata é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes e do Centro Cultural Prof. Faris Michaele.

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