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Cocar multifuncional

Divulgação

Legenda

Quantas penas cabem num cocar? Quantos atos de bravura coroam uma vida? Muito além da beleza estética, o cocar, do cocare, em francês, representa a dignidade atribuída através de grandes feitos, liderança altiva reconhecida. Quem está apto a portar um cocar? Do alto da cabeça, tão nobre quanto uma coroa real, quem mereceria um cocar ancestral?

A pluralidade cultural abarca nossos tempos. Nas cidades cosmopolitas, mundo afora, habitam representantes das diversas etnias, povos que guardam, por vezes reeditam, a cultura alusiva. E na miscelânea de povos, qual recipiente integrativo permite a mistura? Há individualidades que vêm ao mundo sem conhecer barreiras comunicativas. Neste caso, da Babel antiga sobram somente ruínas, em páginas traduzidas. Qual o valor da leitura nos idiomas de qualquer época, qual página comum escrita? São chaves que abrem portas e decifram enigmas, quem encontrou e desvelou a forma erudita, desvenda os mistérios advindos. Cultivar a quem cultivara, reconhecer a quem reconhecera, a cultura tem, sim, inúmeras serventias.

Na memória ponta-grossense, a figura exclusiva, em habilidades e legados, do professor, poliglota, Faris Antônio Salomão Michaele, ícone da pluralidade de talentos, espargindo ao mundo suas obras. A vida cultural da cidade se divide em antes e depois de Faris Michaele? O fato contundente é do trabalho sem precedentes em multidisciplinaridade cultural, evocada através da educação, antropologia, ecologia, línguas, literatura, projetando-se além da província. Formação do Centro Cultural Euclides da Cunha, atuação na fundação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras e de Direito de Ponta Grossa, participação em inúmeras instituições, em diversos países. Os olhos ávidos em ler o mundo, conhecendo e compreendendo um amplo espectro de idiomas vigentes e línguas antigas. Uma busca implacável por desvendar os mistérios da porção indígena, velados, na população brasileira, a esta mesma população. No resgate da cultura do ameríndio, muito dos equívocos desqualificativos acabou por desmistificar, enobrecendo a origem indígena, à luz do conhecimento.

Capacidade individual tornada ferramenta de trabalho em prol da cultura. Todo ofício que tem valor essencial revela esta valoração na porção intangível. Verdade que faz justiça, na vida de pesquisas que encontra a cepa esquecida. O que nos compete agora é parte da missão de vida, reconhecer e perpetuar a quem reconhecia. O Centro Cultural Professor Faris Michaele, fundado há 28 anos, em homenagem ao intelectual, perpetua a linhagem dos que encontram na cultura forma viva de expressão e cultivo das qualidades sensíveis de um povo. Uma cabeça, uma inteligência, um trabalho dedicado à revelação da verdade, de chafurdar até encontrar as origens de uma nação. No professor Michaele uma capacidade tão impressionante quanto altiva e altruísta, legado a todos. Um nome que se associou ao mundo através da cultura. Uma cabeça a ser coroada com um cocar expressivo.

 

Renata é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes e do Centro Cultural Prof. Faris Michaele.

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