em

E SE O AMANHÃ NÃO CHEGAR?

*Por Nelson Canabarro 

Nestes dias uma empresa que eu trabalhei por muitos anos promoveu um encontro de ex-professores e ex-alunos. Foi muito bacana reencontrar velhos companheiros de profissão, boas lembranças com os ex-estudantes, que agora são pais, mães, médicos, engenheiros, advogados e outras tantas ocupações na vida. Algumas histórias surpreendentes, algumas perdas irreparáveis. É bom ver o que o tempo faz com a personalidade das pessoas. A maioria melhora muito. Outros parecem ter estacionado na adolescência. Uns ainda guardam os mesmos traços da juventude, outros envelheceram rápido e mudaram muito. Mas o mais impressionante são as mudanças de personalidade que o tempo nos impõe. Por isso que sempre digo, se os jovens tiverem o direcionamento correto, suporte emocional e, acima de tudo, bons exemplos, podem vir a ser pessoas excepcionais. Independente de como eram na juventude. O tempo, as diversidades e as necessidades da vida servem de buril para o caráter das pessoas. O mesmo posso falar dos meus colegas professores. Lembro do tempo em que éramos jovens por dentro e por fora (hoje somos jovens somente na mente). Havia dentro de nós uma ansiedade, uma busca por algo desconhecido, uma necessidade de conquistar seu espaço, uma vontade enorme de um vir a ser. Vivíamos afoitos, com pressa e acelerados.

A CALMARIA DOS ANOS
Penso que essa agitação, própria da juventude, não permitia que explorássemos ao máximo nosso potencial e gastávamos mais energia do que o necessário para realizar tarefas. Mas ao mesmo tempo, de forma paradoxal, esse excesso de energia era o que nos impelia para frente, para fazer coisas e para realizar o futuro. Hoje somos o futuro de nós mesmos. Todos mais calmos, com mais dores pelo corpo, mais desacelerados e mais complacentes. Ganhamos experiência e, com ela, habilidades de relacionamento e de resolver problemas gastando somente a energia necessária. Todos podem olhar para trás, alunos e professores, e ver a sua trajetória, e com ela poder entender muito de si mesmos. Somos o que somos por tudo que vivemos, fizemos e experimentamos. A vida pode ser muito imprevisível, mas história não, ela guarda uma relação forte de causa e efeito. Nossas relações, frustrações, aspirações, fé, e acima de tudo, nossas ações e decisões nos moldaram e construíram os nossos atuais estados físico, psíquico e social. E é só o que nos resta. Nos cabe aceitar e vivermos felizes para sempre consigo mesmo.

CARPE DIEM, QUAM MINIMUM CREDULA POSTERO…
A expressão carpe diem tem sido usada com a conotação de viver o dia de hoje como se fosse o último. Se fosse isso, teríamos que gastar muito tempo nos despedindo das pessoas. Já pensou ir embora sem dar tchau para os amigos, sem um textão no facebook? Mas quando o poeta grego Horácio cunhou essa expressão no contexto da frase acima, ela tinha um significado mais realista. Ela significa: “colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”. Não significa ser o último dia, nem viver como se fosse o último dia, mas sim “colher” todas as possibilidade que o hoje nos permite, porque o amanhã poderá nunca chegar. Não confiar no amanhã e nem deixar para amanhã pedaços de vida que podemos viver hoje talvez seja o grande segredo do bem viver e da saúde mental. Olhando as fotos com os meus colegas de profissão e com os ex-alunos e vendo os efeitos tão evidentes do tempo, entendi o real significado de colher um dia de cada vez, na árvore da vida. Terminamos nosso encontro como todos os encontros de ex-colegas, ou seja, com algumas promessas de nos revermos e nos reunirmos outras vezes no futuro. Mas é preciso tomar algumas decisões hoje para que isso não se torne promessa vazia, porque é melhor não confiar muito no amanhã. 
 

Participe do grupo e receba as principais notícias da sua região na palma da sua mão.

Entre no grupo Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.