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Empatia: o que eu tenho a ver com isso?

Lucimara Maeda

Médica radiologista formada pela Unicamp

Trabalha na Clínica Sabedotti e Hospital Geral da Unimed de Ponta Grossa

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O que aconteceria se você pudesse estar no lugar do outro, ouvir o que o ele ouve, ver o que ele vê, sentir o que ele sente, pensar o que ele pensa? Você o trataria diferente?

Ao longo da minha vida profissional como médica radiologista, deparei-me com inúmeros casos de câncer de mama. Tomada de um forte pensamento acadêmico, no início da minha carreira, ou talvez porque naquela época as pacientes que examinava tinham pelo menos duas décadas de vida a mais que eu, confesso que, muitas vezes, acabei valorizando mais o diagnóstico de câncer do que a paciente que o carregava.

Mas o tempo passa, e a idade também.

Até o dia em que me vi fazendo o diagnóstico de câncer de mama em uma grande amiga. Tínhamos a mesma idade, e ela me ligou pedindo que eu a examinasse, pois tinha percebido um "caroço" em sua mama. A mamografia revelou uma lesão com características muito suspeitas para um tumor maligno. Ao fim do exame de ultrassom, ela me perguntou:

— Meu nódulo é maligno?

Diante de uma pergunta tão franca e direta, não havia como me omitir. A única resposta foi:

— Sim, seu nódulo apresenta características muito suspeitas e teremos que fazer uma biópsia.

Naquele momento, nos abraçamos e choramos juntas. Impossível permanecer indiferente frente a essa situação.

Em menos de duas semanas, ela foi encaminhada ao mastologista. Fizemos a biopsia e tivemos a confirmação do câncer. Resolveram que ela faria a quimioterapia neoadjuvante – quando se faz quimioterapia antes da cirurgia. Na terceira sessão de quimioterapia, seu cabelo já havia caído. Encontramo-nos para um café num domingo frio e chuvoso. Durante o encontro, ela retirou a boina e começou a explicar o quão difícil era se "expor" careca.

Muitas pessoas que estão ao seu redor se afastam, outras lançam sobre você um olhar de piedade. Contou-me que não era fácil usar lenços. Lenços de seda são lindos, mas de tão lisos escorregam por não mais ter o cabelo para segurá-lo. Lenços sintéticos, muitas vezes, são muito ásperos, e acabam incomodando o couro cabeludo, que é tão sensível. Alguns tecidos esquentam tanto que tornam o seu uso insuportável. Ainda, contou-me algo que eu não sabia: durante a quimioterapia, a paciente sente uma fraqueza muscular tão grande que, muitas vezes, não consegue levantar o braço – impossível imaginar que é possível sustentá-lo erguido para amarrar um lenço na cabeça.

Além de médica, sou artesã e adoro costurar. Após o encontro, não saía da minha cabeça a ideia sobre a dificuldade de se usar um lenço. No dia seguinte, fui em busca do tecido ideal e consegui costurar um turbante: fácil de vestir, macio e fresco, mas estava muito longe de ser bonito. Percebi porque o câncer de mama assusta tanto as mulheres. Além do risco de morte, o câncer de mama mexe com a feminilidade, com a vaidade, com a autoestima. Então, além de confortável, macio e fresco, meu lenço teria – também – que ser bonito.

Foram inúmeros os modelos por mim costurados até que me contentasse com o resultado. Amei o resultado: confortável, fácil de vestir, e com duas pontas que, se unidas na lateral, faziam a vez do cabelo que a paciente perdeu. Além disso, permitia diferentes amarrações.

Experimentava cada lenço que eu costurava e a sensação era sempre a mesma: "Se eu estivesse com câncer, eu estaria assim."

A partir dessa história, e de um simples "lenço", pude exercer minha empatia.

Empatia não é piedade nem compaixão. Empatia não é fazer ao outro o que você quer que façam a você. Empatia não é ver os problemas do outro com os nossos olhos.

Empatia é pararmos, por um momento, de sermos nós mesmos e tentarmos enxergar o problema com o olhar do outro.

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