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Igreja São José

Quantas pedras haveríamos de encontrar no meio do caminho? Mais do que percalços, um álibi para o próprio destino. Matéria a ser amalgamada, marco na construção de um novo peregrino. O reino mineral também moldando nossos corpos, esculpindo a base para a vida em suas manifestações mais itinerantes. Fortaleza em ossos e músculos capaz de fazer alçar os passos pelo caminho. Desde a pré-história, enquanto o homem inda pervagava, o contato com as pedras como força aliada nas ferramentas confeccionadas.

Nas catedrais góticas, o símbolo da perfeição em obras que nos aproximam dos céus. Concepção erigida por meio da força e da sabedoria humana que, em contrapartida, eleva ainda mais este ser em alma embevecida, passos para um espírito igualmente enlevado. Também como fortalezas militares, inteligentemente arquitetadas, obtendo, através das pedras, um baluarte que avista e protege contra os perigos. Ao norte da Ilha de Santa Catarina, a Fortaleza de São José da Ponta Grossa era um dos vértices do triângulo de fogo, que juntamente com as fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim e Santo Antônio de Ratones protegiam o norte da ilha contra investidas estrangeiras interessadas em aviltar o território nacional, a partir da graciosa orla arabescada da região Sul. A construção do harmonioso conjunto arquitetônico, iniciada em 1740, foi finalizada e posta em marcha, na poesia agressiva dos 31 canhões que guarneciam suas muralhas. O Brasil tem, de Norte a Sul, histórias contadas e fortificadas em pedras.

Quase 200 anos depois, em 1941, finalizava a construção da Igreja São José, a igreja de pedra, em Ponta Grossa. Mas que agradável combinação de elementos similares, São José, honrada individualidade de valor reconhecido entre povos; Ponta Grossa, referência geográfica como cidade na região dos campos paranaenses e como encosta do mar catarinense; as pedras, novamente aquelas que nos acompanham na vontade de fortificar proteção, ideias e convicções. Forte e destemida, ao mesmo tempo frágil e subjetiva, a fortaleza, elemento a ornamentar e a salvaguardar na mente e nas sensações o que vai pelas redondezas, nas cercanias do indivíduo. Na Ilha de Santa Catarina, uma função clara de proteção física e territorial da colônia a ser mantida. Na Igreja de São José, uma fortaleza que se expressa no simbolismo do “erguer templos às virtudes e cavar masmorras aos vícios”. O desejo de se tornar um ser verdadeiramente humano levando-nos a marcar em pedras suntuosas edificações que nos rememorem que esta necessidade, inda hoje, urge. Uma referência que aponta e indica para a conduta humana que se espelha em atitudes éticas. A beleza arquitetônica, ornada em pedras, nunca é fútil, numa harmonia que remonta à perfeição divina, encontra a alma humana similaridade e motivação para também alcançar a elevação. Desde as mais antigas culturas, nos primórdios da civilização, já se conhecia o sagrado que vem da geometria, construções em equilíbrio que inspiram e motivam a uma conduta integrativa.

 

A escritora é integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes e do Centro Cultural Prof. Faris Michaele.

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