em

Lendas do Paraná

– Ah, pai, eu não quero ir! – disse Paulo.

– Vai sim! São seus avós, você não gosta deles?

Claro que Paulo gostava deles. Mas ir fazer o que na casa nova dos avós? Seu pai já tinha dito que ainda não tinham instalado a internet ainda.  Entrou no carro e foi o caminho todo emburrado e sem conversar com o pai. Ficou imaginado a chatice que seria ficar lá sem fazer nada no meio de todas aquelas caixas de mudança, sem internet e sem ter ninguém para brincar.

Quando chegaram na casa nova, tinha um caminhão na frente com alguns homens descarregando os móveis. Seu avô veio recebe-lo:

– Paulinho, que bom que você veio! Estamos precisando de braços fortes hoje!

Ele mal abraçou o avô e já foi entrando na casa. Já na sala, foi pra janela e viu seu pai e seu avô se abraçando e conversando. Achou que os dois viriam atrás dele para tentar animá-lo. Nada disso. Logo foram em direção ao caminhão de mudança e começaram a ajudar os homens a descarregar os móveis.

Saiu da janela e decidiu explorar a casa nova dos avós. Era uma casa pequena e com todas aquelas caixas espalhadas pelos cômodos parecia menor ainda. Os móveis estavam todos fora do lugar: pia na sala, TV no corredor e geladeira na lavanderia. Só a estante onde ficavam as fotografias e os livros deles estava montada. Ao lado duas caixas: uma escrita “retratos” e na outra “livros”. Paulo sentou entre elas e tirou o celular do bolso torcendo para que ele tivesse conectado a alguma rede ali da vizinhança. Mas não, nada de internet.

Ainda olhando pro aparelho, Paulo ouve a voz do avô:

– Paulinho, meu filho, seu avô ainda não consegui instalar a internet.

– Eu já sabia, papai já tinha me contado.

O avô então diz uma frase que deixa Paulo com uma mistura de tristeza e vergonha:

– Então era por isso que você não queria visitar seus avós?

– Não, vô. Paulo responde olhando para baixo.

– Tudo bem, meu filho, deixa isso para lá. Olha, por que você não ajuda seu avô a preencher a estante? Aí quando sua avó e sua mãe voltarem do mercado, vão ficar orgulhosas da sua ajuda.

Paulo não achou a ideia muito legal, mas não queria discordar do avô. Então já foi abrindo a caixa dos retratos quando o avô disse que era melhor acomodar os livros, já que os porta-retratos poderiam cair e o vidro quebrado poderia machuca-lo. Paulo então abre a caixa dos livros, o avo lhe faz um carinho na cabeça e volta ajudar o pai e os outros homens na mudança.

Paulo então começou a colocar os livros na estante, mas logo um em especial o chamou a atenção. Era um de capa dura, que entre as várias figuras da capa tinha a taça do Parque de Vila Velha. Ele lembrou do dia em que visitaram o lugar, ficava no caminho entre a Ponta Grossa e casa antiga casa dos seus avós. O nome do livro era “As lendas do Paraná”.

Ele foi passando as páginas até encontrar a lenda de Vila Velha. Parou quando viu novamente a ilustração da taça, se encostou na parede e começou a ler. A lenda dizia que muito tempo atrás, Vila Velha era um lugar chamado de Abaretama, que na língua indígena significava “terra dos homens”. Lá vivia uma tribo composta só de guerreiros, chamada de Apiabas, esses homens eram também os protetores de um grande tesouro, o Itaimmareru. Os índios desfrutavam de muito conforto e muita liberdade, mas eles não podiam namoram índias de outras tribos. Sabendo disso, uma tribo rival enviou a jovem Aracê Poranga para seduzir o guerreiro Dhui. Só que o casal se apaixonou de verdade, provocando a raiva do grande deus Tupã. O deus indígena, revoltado, transformou os namorados e a cidade toda em pedra. O tesouro foi derretido e se transformou na bela lagoa dourada.

Paulo adorou a história. Voltou ao início do livro e começou procurar outras lendas sobre lugares que já conhecia. Achou a lenda das Cataratas do Iguaçu, aquelas cachoeiras enormes que ele sempre via na TV. E também leu a lenda da Araucária, também conhecida como pinheiro-do-paraná.

Seu avô e seu pai espiavam ele de vez em quando pela janela, surpresos com a concentração do menino no livro. Paulo estava tão mergulhado nas histórias que nem percebeu a chegada da mãe e da avó. Elas entraram pela sala e não quiseram mexer com o pequeno leitor. Só algum depois a avó de Paulo gritou lá da cozinha:

– Paulo, largue um pouco esse livro e venha comer alguma coisa!

Não adiantou nada. Seu avô, que junto com seu pai tinha feito uma pausa na mudança para comer alguma coisa, teve que ir pessoalmente chamar o menino para se alimentar. Paulo chegou na mesa improvisada de caixas de papelão com o livro embaixo do braço, puxou um banquinho e antes de dar a primeira mordida no sanduíche que sua avó tinha preparado, perguntou a todos:

– Vocês conhecem a lenda de Vila Velha?

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