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LUGAR DE VELHO É EM CASA

Um dia desses estava no centro da cidade quando escutei alguns garotos reclamando de um senhor idoso que estava andando vagarosamente pela calçada, atrapalhando a pressa da juventude. Um deles até disse que esses velhos não deveriam sair de casa.

Não sei qual sua opinião sobre isso, mas o fato é que a lentidão dos idosos muito se deve ao esforço que fizeram para construir a cidade em que vivemos. Esses velhos foram responsáveis por tudo o que temos à nossa disposição hoje em dia. Cada pedra na calçada, cada novo prédio, cada criança nascida, cada tijolinho da nossa história foi colocado por alguém mais velho que nós.

E todos deveriam reverenciar os idosos, pois viveram numa época em que o mundo era muito mais difícil e a vida não tinha tantas facilidades eletrônicas e tecnológicas como hoje em dia.  Porém o que vemos são situações de flagrante desrespeito à pessoa idosa. Assédio moral, sequestro psicológico, exploração financeira, maus tratos, solidão, esquecimento, falta de atenção à saúde, falta de acessibilidade para o idoso, dentre tantas outras mazelas sociais a que estão expostos.

A VIDA MUDA APÓS OS 60

Tenho a felicidade de ter minha mãe com 82 anos, saudável e atuante, com uma energia e vitalidade impressionantes para a idade. Mas também vejo que a vida dela mudou muito com o passar dos anos, deixando-a mais frágil, com menos potência e necessitando cada vez mais da presença dos filhos e netos, no caso eu, meus irmãos e nossos filhos. Na situação dela existem milhares de outros idosos que necessitam cada vez mais da atenção dos mais jovens, mas que em muitos casos precisam buscar o apoio de estranhos para poderem fazer as coisas do dia a dia. A solidão ronda a terceira idade e cria a condição ideal para que oportunistas surjam, se infiltrem e explorem o idoso. Primeiro com bons serviços, com companhia e com suporte. Criam a dependência emocional e afetiva e então se aproveitam da situação, passando praticamente a anular a vida ativa do idoso, fazendo tudo no lugar deles, tomando decisões por eles, bloqueando e monitorando visitas, até que por fim, tomam conta das finanças da casa e criam a última e crucial dependência: a financeira. E o idoso mesmo sendo o dono da receita, passa a viver com uma vida racionada e controlada por terceiros.

O QUE FAZER

Essas situações são mais comuns do que imaginamos e sair de uma dessas é muito difícil porque a dependência psicológica acaba fazendo com que o idoso aceite a situação e passe a não enxergar a realidade dos fatos. É necessário que os membros da família se aproximem e passem a ocupar os espaços vazios da vida emocional dos mais velhos e, com isso, passem a diminuir a dependência de uma pessoa só, comecem a entender as tramas sociais estabelecidas na casa e passem a dividir a atenção com o oportunista, até o completo expurgo do mesmo. Afinal, tudo o que qualquer pessoa precisa é de amor, atenção e companhia, que no final das contas não custam nada.  E quando você encontrar uma pessoa andando devagar, com cabelos brancos e o rosto esculpido pelo tempo, abra caminho e dê passagem. É certo que ele não ficará jovem novamente, mas você ficará velho, se Deus permitir.

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