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Maria sem Fumaça

Arquivo DC
Parte da história de Ponta Grossa, a Maria Fumaça nº 250, aguarda restauração

Maria de quem? Fumaça de onde vem? Nevoeiro desce sobre a cidade, como efeito nubiloso encobre o que se avista. Então não há vista? Não sem que se insista olhando de través. Nos céus, em forma de asteroides, o ferro cósmico desce à Terra. No sangue humano, a boa vontade tem cor vermelha. Vermelho sangue carrega na força a marca de quem não se cansa.

A cidade tem raízes ferroviárias? Sim. Braços, pernas e tronco em ação e coragem férrea. Em mãos dispostas a malhar o ferro e mente em elevada competência técnica, Germano Krüger construiu e fez funcionar, em 1942, a Maria Fumaça nº 250. Terra carregada do mineral abundante que no sangue corre e abastece os vagões do coração em disposição para o trabalho, ânimo escarlate. Ponta Grossa se tornou gente grande, amadurecida e integrativa, desde que seu corpo foi marcado, em tatuagem etérea, pelos trilhos e ferros em via das ferrovias.

Peculiarmente, no Brasil, as locomotivas a vapor, características da mecanização de idos tempos, foram apelidadas de “Maria Fumaça”, óbvia alusão à densa camada de fumaça e fuligem expelidas de seu mecanismo combustível. Ainda assim, um charme inocente de épocas em que a poluição não era contundente. Sem, contudo, melhorar as condições de emissão atmosférica, a romântica e trabalhadora Maria Fumaça 250 foi substituída, em 1972, por uma locomotiva movida a diesel, deixando às margens da ferrovia sua ainda plena capacidade de operação. A praça do complexo ambiental que guarda, submersa, a memória dos ferros em trilhos da cidade é cenário e depositário da estimada 250, hoje quase uma carcaça, mas que ainda pode ser restaurada.

Na obra “A Divina Comedia”, de Dante Alighieri, inferno, purgatório e céu são descritos com requintes de imaginação (real?). Nos punitivos círculos do inferno, um dos mais temidos é onde os falsários de moedas são condenados à hidropisia, tornando-se eternamente imóveis. Qual crime capital a Maria Fumaça, ponta-grossense de nascimento, condenada a tal desalento, aplacaria por nós?

 

Autora: Renata é integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes e do Centro Cultural Prof. Faris Michaele.

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