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MEU CUIDADO, MEU DIREITO!

MICHELE CAPUTO

                Neste ano, o mês de outubro apresenta-se para nós com uma dupla carga simbólica. É o mês do “laço rosa”, do esforço pela prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do câncer de mama, doença que continua acometendo mulheres e atingindo milhões de famílias. Apesar dos melhores índices em nosso estado, quando comparado com o restante do país, nunca chegará o tempo de suspender essa campanha. Vide o exemplo do que acontece com o sarampo, quando um relaxamento nas ações de vacinação fez que ressurgisse uma doença que estava praticamente erradicada.

                Mas o mês de outubro também deve servir para realçar, aqui no Paraná, as iniciativas e ações voltadas a implantação e fortalecimento dos Cuidados Paliativos, simbolizados pela “borboleta azul”. Aqui e no mundo inteiro o dia 12 deste mês deve ser lembrado como o “Dia Mundial do Hospice e do Cuidado Paliativo” (World Hospice and Palliative Care Day). Para quem ainda não teve oportunidade de participar de algum ato ou movimento nesse campo, esclareço que o termo “hospice”, amplamente difundido nos países europeus, nos EUA, no Canadá e na Austrália, corresponde para nós ao conceito de “hospedaria”, como é o caso da Hospedaria do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, inaugurado em 2004 e comandado pela Dra. Dalva Matsumoto. Ou seja, unidades de atendimento especializado em cuidados paliativos.

                Esse movimento internacional, do qual proponho que a Assembleia Legislativa do Paraná faça parte por meio da aprovação de uma Lei Estadual, foi o autor do lema deste ano: “My Care, My Right!”. A intenção é chamar atenção para o direito que todas as pessoas acometidas por doenças incuráveis têm de receber o atendimento de Cuidados Paliativos adequados, dentro da politica pública de saúde, e a necessidade de priorizar o financiamento de cuidados paliativos na Cobertura Universal de Saúde.
              Em nosso país, a realidade atual nesse campo é dramática. Só em torno de 10% dos hospitais brasileiros contam com equipes de multiprofissionais especializadas em cuidados paliativos, enquanto nos países mencionados o percentual é superior a 70%! Estima-se que cerca de 40 milhões de pessoas precisem de Cuidados Paliativos no mundo, sendo que 80% moram em países em desenvolvimento. Contudo, apenas 14% recebem cuidados adequados.

                Lamentavelmente, o Paraná não é exceção. Poucos, pouquíssimos são os profissionais e os serviços atuantes nesse campo e muitos paranaenses que precisam dos cuidados paliativos não o recebem. E não o recebem porque muitos profissionais de saúde ainda não sabem o que são, os cidadãos não sabem o que são e os políticos mal sabem o que são.

             Felizmente, vivemos um novo momento no Paraná e fazemos parte de um forte movimento com perspectivas de virar essa página. Graças ao espírito empreendedor e inovador de alguns profissionais, liderados pelo Dr. Roberto Bettega, desde 1994 existe o Grupo Interdisciplinar de Suporte Terapêutico Oncológico (GISTO) no Hospital Erasto Gaertner, dirigido pela Dra. Clarice Yamanouchi. No próximo dia 26, o GISTO, o Erasto Gaertner inteiro e todo o movimento dos cuidados paliativos no Paraná estará comemorando os 25 anos de funcionamento ininterrupto. Até o final do ano, deve ser inaugurado o primeiro Hospice Público do Estado, no próprio Erasto Gaertner, em Curitiba.

O GISTO do Erasto Gaertner tem servido de exemplo e de incubadora de outros serviços, como o do Hospital do Câncer de Londrina, cuja Equipe Interdisciplinar de Cuidados Paliativos oncológicos foi estruturada pelo Drº Luis Fernando Rodrigues, em 2009. Atualmente, o serviço é comandado pelo Drº Marcos Lapa, que neste ano comemora 10 anos de atendimento hospitalar, domiciliar e ambultorial.

                Dupla carga simbólica… laços cor de rosa e borboletas azuis devem continuar sendo símbolos da luta pela saúde… O Drº Erasto Gaertner, médico formado pela UFPR em 1925, deputado estadual em 1934, prefeito de Curitiba em 1951 e um dos fundadores da Liga Paranaense de Combate ao Câncer, criada em 1947, foi precursor dos cuidados paliativos, pois criou as condições para o seu desenvolvimento a partir de 1994.

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O autor foi Secretário de Saúde e é Deputado Estadual.

 

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