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Nascer tem hora certa, não hora marcada

 

Nosso país está passando por uma epidemia que tem levado a saúde brasileira para uma situação preocupante. Trata-se do número excessivo de cesáreas que estão sendo realizadas sem necessidade específica, provocando malefícios para mães, crianças e sistema de saúde de um modo geral.

A Organização Mundial da Saúde preconiza que do total de partos realizados num país, apenas de 5 a 15% sejam cesáreas. No Brasil, entre o público formado por mulheres com 2º grau ou superior, atendidas em hospitais privados por meio de plano de saúde, esse tipo de parto chega a 90% do número total. Já entre as mulheres com menor escolaridade e atendidas pelo serviço público, as cesáreas giram em torno de 30%. Nos países mais desenvolvidos como Estados Unidos, por exemplo, a taxa de partos visa cesárea também não ultrapassa os 30%, analisando o público total de mulheres gestantes.

Trabalhos científicos provam que os riscos tanto para a mãe quanto para a criança são cinco vezes maiores em cesáreas se comparados ao parto natural. Além disso, crianças prematuras – que representam cerca de 10% dos casos de cesárea –, por não terem os órgãos adequadamente formados, principalmente no que diz respeito a parte pulmonar, podem apresentar insuficiência respiratória, comprometimento cerebral, gastrointestinal e cardíaco, assim como hipotermia e hipoglicemia.

Para as mães, os riscos incluem complicações inerentes ao procedimento cirúrgico da cesárea, como sangramentos, infecções, placenta descolada e ruptura uterina em futuras gestações. Além disso, quando falamos em casos de nascimentos prematuros, existem também as questões emocionais como a separação da mãe e do filho enquanto este permanece na UTI, o atraso do aleitamento e depressão.

O mais alarmante é que grande parte destas cesáreas são as chamadas eletivas, onde os pais, em muitos casos, preferem agendar o procedimento cirúrgico para a data que melhor se adeque a sua necessidade, chegando a casos extremos de escolher em função do signo e  numerologia do bebê. 

Os malefícios deste quadro em nosso país estão atingindo a todos, pois a taxa em UTI neonatal deveria girar em torno de 6% e hoje, em alguns casos, estamos em 15%. Ou seja, este aumento de bebês em UTIs neonatais tem como consequência falta de UTIs para crianças com problemas graves de nascimento.

Há necessidade urgente da sociedade médica, secretarias municipais e estaduais e o Ministério da Saúde se unirem junto aos pagadores de serviço em uma campanha para mudar este perfil que já virou uma epidemia brasileira nas classes com maior poder aquisitivo. Não se encontra tal índice em outros países. E diferente do que muitos defendem, não há relação entre número de cesáreas e qualidade dos atendimentos, pelo contrário, é mais comum cesáreas com pré-natais mal feitos, mal conduzidos e que visam diferentes interesses.

 

* Cadri Massuda é presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo Regional Paraná e Santa Catarina (Abramge PR/SC)

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