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Nostalgia polonesa

Renata Regis Florisbelo
Prédio referência na história da imigração polonesa nos campos gerais

O mundo é azul. O céu é da cor azul. A nostalgia na saudade e na beleza é azul como as águas profundas que emergem da alma e submergem em lembranças. Será que voltam? Nas mentes saudosas a esperança é como barco no remanso sobre águas plácidas e em dias bravios, sob a fúria intempestiva dos ânimos e dos corações inquietantes.

Azuis também as paredes, peito aberto que mostra o coração. Na arquitetura de 1934, um detalhe instiga, graciosamente, corações entalhados deitados. Será que tombaram de amores? Será que se curvaram diante dos dissabores? Memórias melancólicas das danças polonesas em assoalho raro, madeira que não há mais donde tirar, tampouco onde pisar. Povo que imiscuiu de branco e vermelho as cores que guardavam nossos anseios.

Discretamente as construções falam. Têm voz ativa que cala vivências, dores, histórica que ficou, presença que marcou. Quando os primeiros imigrantes poloneses chegaram à Ponta Grossa, em 1878, pincelaram na cultura local sua identidade multidisciplinar na arquitetura, na dança, na religiosidade. Quanto da cidade se revestiu em sinais polônicos? Difícil precisar, as tradições são fluídas qual água e, como tal, ocupam recônditos sinuosos e aparentemente ocultos. O prédio, sede da antiga Sociedade Polonesa Renascença, à Rua Pinheiro Machado, é referência polonesa nos Campos Gerais. Quem, como eu, passa em frente à edificação, abalada pela ação do tempo, não fica indiferente à venustidade nos traços marcados em cores apagadas. Como a face da bela anciã, a passagem dos anos inscreve na expressão, mas não esmorece a beldade original. Testemunha silente, resiste e persiste aguardando quem lhe queira bem, quem se disponha a trilhar na contramão do pensamento vulgar e dê espaço ao valor imaterial. Memória tem preço? Sabemos que sim. Quem paga? Abdicaríamos nós um pouco das prioridades para salvaguardar o que é de todos? Quem perde? Suplantaríamos nós, das verdades, o patrimônio posto à frente, pautado como preciosidade? Só sei que este prédio me chama, sussurra, não quer causar alarde, na nobreza de propósito, sabe que cumpre com a sua parte. Se cupins corroem, corrompem assim nossa melhor sorte.

 

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