Por Ale Dossena*
Hoje a dica é de um clássico de Gil Vicente, o primeiro dramaturgo da língua portuguesa. A peça “Auto da Barca do Inferno”, encenada pela primeira vez em 1517, traz a história de treze personagens que falecem e chegam a um rio, onde encontram duas barcas: a Barca do Inferno, comandada pelo diabo e um companheiro, e a Barca da Glória, comandada por um anjo. Cada personagem ao chegar, avista primeiro a Barca do Inferno e inicia um diálogo com o diabo. Este, que conhece muito bem cada um deles, age com ironia e sarcasmo, se portando como um juiz e expondo seus fracassos e erros durante a vida. Com vários argumentos, insiste para que entrem na sua barca, mas todos resistem e vários tentam entrar na Barca da Glória e são proibidos pelo anjo. Só alguns salvam-se. O livro foi escrito no século XVI, e apesar da estranheza com o vocabulário e linguística, é interessante perceber, durante os diálogos e julgamentos, que a história é uma sátira à sociedade de Lisboa daquela época.
* Escritora e responsável pelo canal Portão Literário.