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O maior mentiroso que já existiu

“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo 8,44).

 

No vilarejo, todos já conheciam a fama daquele homem tido como mentiroso. As crianças que há um tempo atrás ouviam e aprendiam com a fábula do “Jovem pastor e o lobo” de Esopo, paulatinamente foram agregando ao seu repertório a história verídica do farsante da vila.
Ninguém ousava mensurar suas farsas, pois todas corroboravam para o desatino daquilo que é mais degradante aos valores humanos. A lábia do larapio das verdades era tanta que as mentiras iam multiplicando-se vertinosamente.
 Certamente, depois de uma boa trajetória como mentiroso perderia a credibilidade daquilo que era sagrado no povoado, as palavras. Foi o que aconteceu.
Depois disso, todos ousaram contabilizar as mentiras do homem e classificá-las em pequenas, médias e grandes. As histórias do mentiroso foram virando antologia na vizinhança. O qual mais o qual queria contar qual era a maior mentira que já havia ouvido.
Como ninguém acreditava mais no homem, qualquer desgraça que viesse de seus lábios seria desacreditada. A amizade com ele manteve-se. Apesar das suas mentiras era trabalhador, devoto de Santo Onofre e querido pela sua bondade. Afinal, somente Um foi perfeito entre nós.
O mentiroso, como era conhecido, vivia sempre alegre, sorridente, cantarolando e buscando uma sombra e algum ser para ser protagonista de suas estórias, tornou-se a personificação da própria mentira. Mas houve um dia que suas palavras inspiraram confiança!
O tempo estava carregado, certamente viria uma tormenta. Ventava muito, quando apareceu o mentiroso do nada. Desta vez chorava. Todos ficaram encabulados e logo perguntaram para ele o que havia acontecido. Triste e choroso exclamou:
– Minha mamãe morreu! Coitadinha, não poderá ver os festejos de São João este ano!
Dona Iazinha, mãe do mentiroso, contava com noventa primaveras e era a rezadeira mais conhecida e querida daquele povoado. Imediatamente todos enveredaram-se para a humilde casinha de Dona Iazinha ao pé da serra. Ao longe, assustados gritaram:
– Meu Deus, só pode ser assombração! É a visagem de Dona Iazinha picando lenha.
Aquela imensa comitiva de gente parou no caminho à espera de algum corajoso que fosse ao encontro da visagem. Todos paralisados foi a dita visagem que venho ao encontro deles. Imediatamente todos fizeram o sinal da cruz, quando ouviram uma voz forte adiantar-se:
– Só falta vocês me disserem que meu querido filhinho mentiu que eu morri. Morri sim! Foi de vergonha desse infeliz! Jamais fui casada com o pai dele!
Sem palavras, o povo ficou parado e indignado. A Dona Iazinha, voltou ao seu oficio, enquanto cada um buscava voltar ao normal da vida. O mentiroso que nessas alturas estava em busca de alguma sombra, chorava amargamente o falecimento de sua mãezinha.

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