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O N-(fosfonometil)glicina é o dicloro-difenil-tricloroetano de amanhã!

Sergio Mazurek Tebcherani

Doutor em Química pela UNESP

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Durante o período da Segunda Guerra Mundial foi criado o dicloro-difenil-tricloroetano, mais conhecido como DDT. De custo barato e acessível, este foi o primeiro pesticida moderno largamente usado durante e após a Segunda Guerra Mundial para eliminar mosquitos transmissores de doenças como malária, tifo, febre amarela e dengue.

Levando 30 anos para se degradar na natureza e, associado aos seus efeitos cumulativos, o DDT causa muitos estragos nas contaminações de solos, lençóis freáticos, eliminação de colmeias de abelhas e na morte de pessoas em virtude do câncer. Por isso a comercialização foi extinta na década de 1970.

Atualmente, o produto recordista de venda é o N-(fosfonometil)glicina, mais conhecido como glifosato.

Identificado em 1950 pelo químico suíço Henri Martin, era produzido pela indústria farmacêutica Cilag e, até a década de 1970, o glifosato também foi utilizado para limpeza de metais.

A partir de 1974, a Monsanto iniciou a comercialização dos herbicidas à base de glifosato na Malásia e no Reino Unido.

Detectou-se que as sementes transgênicas de algodão, milho e soja são resistentes ao glifosato e o herbicida passou a ser usado em larga escala no Brasil a partir de 2005.

A patente do glifosato foi quebrada em 2000 e, atualmente, o glifosato é o princípio ativo de mais de 2 mil produtos. No Brasil, são comercializados por volta de 110 agrotóxicos à base de glifosato.

Em 2015 estudos da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), alertam para um possível desenvolvimento de câncer a partir do glifosato, todavia, a OMS e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) são favoráveis à utilização do glifosato quando a exposição é limitada e controlada.

No ano de 2018 a Bayer incorporou a Monsanto por R$ 248 bilhões e, no mesmo ano, foi condenada nos EUA a pagar R$ 1,1 bilhão ao jardineiro Dewayne Johnson, por ter contraído câncer devido à exposição prolongada ao glifosato e, neste ano, foi condenada novamente à indenização de R$ 315 milhões a Edwin Hardeman, por não alertar sobre os riscos do produto.

Recentemente a Anvisa liberou a utilização do glifosato no Brasil, afirmando que a substância não apresenta características mutagênicas e carcinogênicas.

Em 2017 foram comercializados no Brasil 173 mil toneladas de produtos à base de glifosato.

Um novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences realizou estudos da influência do glifosato quando ingerido pelas abelhas. Os resultados foram conclusivos que o microbioma intestinal dos insetos é reduzido, diminuindo a capacidade de combater infecções e que, devido a um parasita, as abelhas morrem, o que não ocorreria se as abelhas não tivessem sido expostas ao glifosato.

Na plantação, este herbicida é aplicado nas folhas de plantas daninhas, impedindo a capacidade da planta de absorver alguns nutrientes. Isto não ocorre nos cultiváveis devido às suas modificações genéticas. O glifosato também pode ser usado como dessecante, uma vez que a soja ainda esteja verde, o herbicida uniformiza a lavoura e permite antecipar a colheita.

Não há dúvida que a produção aumenta exponencialmente com a utilização deste herbicida e que o Brasil é um grande beneficiário destes resultados na balança comercial. Nossa economia é extremamente dependente desses resultados.

Na Europa, o glifosato está liberado até 2022 e a Alemanha já antecipa que irá procurar meios alternativos para extinção do uso deste produto.

Entretanto, precisamos ter em mente que vivemos no mundo dos negócios dominado pelo jogo industrial. Pode ser uma coincidência ou não, mas, justo a Alemanha, que é um dos países de maior industrialização química do mundo? Já existe outro produto para substituir este herbicida atual?

A verdade é que o glifosato é o DDT de amanhã!

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