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O planeta cabe na urna

Na sociedade da hiperinformação – multiconectada e agindo cada vez mais por valores – o produtor rural parece ter conquistado, definitivamente, um espaço de valor na percepção do público urbano, por desempenhar uma função essencial na sociedade. Mais ainda: ele próprio, o produtor, aumentou seu nível de confiança e hoje se vê como um provedor de alimentos.

Está na pesquisa Farm Perspectiv Study (realizada pela BASF), que ouviu 1.300 pessoas no Brasil e cujos resultados foram divulgados em agosto último: 88,6% dos consumidores têm consciência que o produtor é um fornecedor de alimentos e 93% dos produtores assim se percebem também.  Ou seja, a consciência do papel do produtor na segurança alimentar cresceu – na cidade e no campo.

O levantamento também revela que a preocupação dos consumidores com a sustentabilidade atingiu a marca de 82%. Mostra, ainda, que 67% dos agricultores afirmam usar métodos sustentáveis de produção e só 37% dos consumidores concordam com isso. Outra dissonância: 75% dos consumidores concordam em pagar mais por alimentos produzidos de forma ambientalmente amigável, mas apenas 36% dos agricultores acreditam nisso.

Como se vê, há uma nova realidade do mercado de alimentos, emergente, que cria oportunidades e abre espaço para o marketing do produtor e do agronegócio, para agregar valor percebido em seus produtos e atividades – ou pelo menos reduzir eventuais abismos de percepção entre cidade e campo, como os mostrados acima.

Desde que a revolução verde chegou a nossos campos e a produção animal modernizou-se, um hectare de terra multiplicou sua capacidade geradora de proteína animal – de 2 para 2,8 kg de carne suína, ou de 1 para 5,6 kg de frango, por exemplo. Isso é sustentabilidade em três dimensões: ambiental, econômica e social.

Mas no mundo contemporâneo, das percepções mutantes, é preciso contar ao público nossas conquistas e progressos. E, olhando a pesquisa Farm Perspective Study, talvez esteja faltando uma maior energia em marketing do agronegócio, para contar essas e outras histórias para a cidade. Falta, por exemplo, desenvolver uma narrativa do campo sobre a sua sustentabilidade.

Quer ver um exemplo? A sustentabilidade depende cada vez mais da incorporação de tecnologia; vale dizer, de sistemas de produção apoiados em uso intensivo de tecnologia. Mais ciência e menos regras – ainda que essas sejam também necessárias e importantes, para induzir o progresso da consciência sustentável.

Essa é uma mensagem que precisa ser levada, por exemplo, aos candidatos a governo federal e estadual da próxima eleição, principalmente aqueles mais identificados com as causas do meio ambiente. Dizer, propor e levar estudos mostrando que a sustentabilidade do campo vai se resolver de fato, na tecnologia.

Essa é uma iniciativa só nossa, só das lideranças do agro, não tenha dúvidas. Pois o planeta cabe em uma urna eleitoral e dá voto, principalmente entre os eleitores mais jovens.

 

Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS); professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM

 

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