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O vendedor de livros

Carregava consigo duas enormes malas. Em uma delas já surrada pelas longas viagens que fizera pelo Brasil afora encontrava-se suas roupas, um par de sapatos, uma alpargata e acessórios de higiene pessoal. Em outra, dezenas de livros e almanaques que procurava vender nos lugarejos por onde passava.

Em cada estação que parava, logo tratava de iniciar uma boa conversa com às pessoas, pois seria uma boa oportunidade para ofertar seus livros e almanaques. Fossem crianças, jovens, adultos, homens ou mulheres estava pronto a ofertar suas obras de arte.

Nunca insistiu para que comprassem seus livros. Apresentava-se e gentilmente elencava sobre os produtos que estava vendendo e suas características. O que ele vendia sempre em maior quantidade eram os almanaques. Tratava-se de uma revistinha com calendário de pesca, receitas culinárias, piadas, dicas para curar diversas doenças, simpatias para espantar pragas da lavoura, biografias de santos, cruzadinhas, trava-línguas que os netos adoravam fazer com os avôs, além de espaço para anotações.

Vendia dicionários, histórias de Pedro Malasartes, livros de Monteiro Lobato e a Bíblia Sagrada. De cada exemplar que propagandeava já havia lido na íntegra, isso somado às suas viagens e seus cabelos brancos o tornaram um homem de ampla cultura, também e sabedoria.

Sempre vendia alguma coisa nas estações. Geralmente seus clientes acabavam comprando um almanaque, ou uma bíblia ou histórias de Pedro Malasartes. Nunca ninguém havia adquirido mais de uma obra ao mesmo tempo afinal, os cruzeiros sempre eram contados para não faltar nada durante o mês. Exceção foi de uma senhora que encontrou na estação felicidade próximo a cidade dos anjos.

Essa senhora estava sentada em um dos bancos da estação e observava calmamente o movimento dos transeuntes apressados ao descerem e subirem nos trens que apitavam sinalizando a partida. O vendedor de livros imediatamente sentou-se ao lado daquela mulher.

Ao sentar-se ao lado dela o vendedor ficou mudo. A mulher apresentou-se e parecendo saber que ele lhe ofereceria os livros, comprou uma bíblia e um almanaque. Depois de pagar pelos livros a senhora perguntou o nome do vendedor e ele ainda assustado respondeu que chamava-se Oliveira. A senhora então pediu uma caneta emprestada e fez uma anotação no almanaque.

Admirado com o gesto daquela senhora simples, humilde e cheia de sabedoria o vendedor perguntou o que ela havia escrito no almanaque. Ela sorriu ternamente e afirmou que apenas escreveu seu nome. Ainda curioso quis saber o motivo disso. Novamente com um tom acolhedor, ao mesmo tempo que lhe entregava a caneta, disse que todas as pessoas que conhecia as inseria num círculo de intenções positivas e toda noite antes de deitar-se orava para elas.

Encabulado com tantas perguntas, prometeu a si mesmo que seria a última questão que faria a senhora. Porque um círculo de intenções positivas? A senhora então o abraçou, levantou-se e desapareceu entre a multidão que ouvia o apito do trem.

 

           

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