em

Papel-jornal

 

Fábio Matavelli

O Jornal está presente no dia a dia da população

 

Os dedos tocaram de leve, queriam sentir, queriam sorver na cinestesia toda forma de se transmitir. Olhos atentos, itinerantes na vontade de emergir. Sorver das páginas efêmeras e recicladas e ressurgir, renascidos em novos saberes. Nas folhas diárias dos jornais, a vontade de mergulhar na vida cada dia mais. Nos cafés, nos escritórios, nas salas de espera dos consultórios onde delas o que se espera é a esperança na cura, na consulta em que se oculta o gosto que a alma ausculta. Sutis na paisagem, nas bancas das praças pendurados, óbvios nas manchetes, curiosos no que entretém, os jornais sempre se reeditam e seguem mais além. Quem ousaria acompanhar fielmente a realidade da vida humana mesmo nas absurdidades? Testemunhas silenciosas, oculares e distais, de onde a vida também se distrai.

Na Roma Antiga a Acta diurna, boletim onde eram publicadas as notícias do governo, insculpidas em pedra e metal. Antes da vinda do Cristo os Césares já se anunciavam.

Notícia vende ou vende-se a vontade estampada e impressa no que é noticiado? Desde que o mundo aprendeu a imprimir, imprimiu a si como um ser que se reedita. Os antigos escrivães produziam 40 páginas por dia, a partir da invenção da prensa-móvel, um único equipamento era capaz de imprimir 3.600 unidades no mesmo período, antes da era industrial o prenúncio da mecanização que extingue e recria empregos. A universalidade das informações onde qualquer um, por mais culto ou mais desavisado, sempre encontra eco num pensamento impresso. Impossível não se deixar embevecer ao folhear as páginas quando diante do exemplar diário. É o indivíduo quem folheia o jornal ou o jornal escamoteia o indivíduo, chafurdando nele a porção que se deixa noticiar? Tragédias, política, variedades mil no fio do resumo do dia. Se a vida fosse uma janela seria o jornal a arandela a se imiscuir em luzes convidando à espiadela.

O Notizia Scritte, publicado em 1556, pela República de Veneza, era distribuído às cidades italianas pela charmosa quantia de uma moeda chamada gazetta. Ainda não acessível às grandes massas, não obstante uma semente a pressentir, no cerne, uma revolução social e cultural. Na economia, nos fatos políticos, nos acontecimentos do cotidiano um armistício que não oculta a sofreguidão. Quem matou quem? Quem roubou outrem? De flagra em flagra, nas notícias, o que se procura e do que se abstêm?

No papel reciclado do jornal de imprensa o apelo ao ciclo de vida que roda, finda e reinicia em nova vinda. O papel-jornal carrega em seus ciclos um fragmento da vida qual tronco de árvore a se expandir nos círculos concêntricos. A cada ano incita aos novos tempos e não finda em acabrunhamento pelo que não desmente em cenas do porvir. Das sobras de madeira da indústria de móveis erige em letras, em múltiplos vernáculos aguardando leitura. A feitura não traz versos, cogita o destino incerto que nos cerca em futuro certo. Se um dia for descoberto, um excerto terá preservado nosso modo de ser.

 

*Renata é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes e do Centro Cultural Prof. Faris Michaele.

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