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Patrimônio Hídrico

Renata Regis Florisbelo/Divulgação

Córrego sem nome da bacia do rio Tibagi. Rios anônimos ‘emprestam’ suas águas aos rios maiores

Águas mansas banharam meu corpo, águas turvas assombraram meu espanto, em águas mornas aguardava pelo acalanto. Com quantas águas se faz um ser humano? Na poesia e nas metáforas as emoções são fluídicas, o corpo emocional se comporta como um ser líquido, que se molda em cantos, em córregos, transpassa em arestas, segue firme e por nada se dispersa. Quanta leveza! Para abarcar a rigidez mineral de nossos corpos, é necessária a fluidez em leitos perenes. Sangue (plasma) e todos os líquidos do corpo seguem em suas bacias, afluem em comunicação, carreando nutrientes, dispersando impurezas, irrigando e levando o oxigênio, permitindo a vida. Água é solvente, os fluxos dos líquidos intra e extracelulares regulam os processos fisiológicos da vida. Os fluxos dos rios, afluentes em forma de outros rios, córregos e arroios, seguem e nutrem todo um conjunto de vidas organizadas em sociedades completas e em sistemas biológicos vegetais e animais. Em épocas onde urge a preservação, a pergunta paira no ar qual corpo sobre as águas, de onde vem a escassez? Como se consumiram e se perderam os líquidos meus e teus? Chove novamente o que um dia foi embora, evaporou em pranto? Não adianta chorar pelas águas desperdiçadas ou pelas nascentes mal cuidadas. O clima é de fazer jorrar a compreensão em atitude compartilhada.

Nos Campos Gerais e em Ponta Grossa, somos agraciados com uma refinada rede de rios e bacias que promovem vasta irrigação. O rio Tibagi, segundo maior em extensão no Paraná, tem suas nascentes em Ponta Grossa, Palmeira e Campo Largo, sua certidão de nascimento atesta, é filho dos Campos Gerais. Desbravador, segue no sentido sul – norte e deságua entre os estados do Paraná e de São Paulo. O rio Pitangui, vermelho na inspiração dos índios guaranis, nasce na cidade de Castro e vem encontrar sua foz no rio Tibagi, em Ponta Grossa. Generoso, antes de se imiscuir a outro corpo hídrico, deixa-se represar nos Alagados e fornece água de abastecimento à cidade de Ponta Grossa. Genuinamente ponta-grossense, o rio Verde tem suas nascentes e foz no município de Ponta Grossa; complementar ao vermelho das pitangas do Pitangui, é seu maior afluente. No vão de tantas curvas encontramos o pitoresco e não menos charmoso rio São Jorge, símbolo do encontro entre as belezas hídricas e os arenitos de Ponta Grossa. Dos apenas 0,3% da água doce no mundo que os rios e lagos representam, a natureza foi generosa com os Campos Gerais, presenteando-nos com rios, córregos, riachos, riachuelos, canais e ribeiras. Dos igarapés do norte do Brasil às sangas do sul, um país que mostra sua força no símbolo da vitalidade e da pujança das águas.

Poesia aflui com a vida, como no leito dos rios em vida. Nossa estimada escritora Helena Kolody assim o sabia, bióloga de formação, poetiza de coração. Qual a diferença? Nenhuma. Vida aflui para mais vida, em todas as formas, na expressão mais rica.

Emoção e gratidão pedem vazão. Um sangradouro na consciência, torniquete às avessas, deixa seguir o curso, sem extravasar em excesso.

 

A autora é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais e da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes.

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