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Patrimônio laboral

Acervo de Cássio Murilo/Divulgação

Trabalhadores da Cervejaria Adriática na década de 30

Indústria, serviços, terceiro setor, onde o ser humano aplica seu labor? Trabalho, tão sagrado quanto a vida. Nas imagens medievais a figura do executor de um ofício que requeria conhecimento, habilidade e experiência. Ferreiros, carpinteiros, tecelões, os artesões aprendiam cedo, como aprendizes, a fazer do trabalho a própria identidade. Só é trabalho o que constrói vida. Até o carrasco, na face ocultada, tinha seu papel reconhecido, valor temido em tarefa a ser cumprida. Paradoxo? No Japão, “nokanshi” é a pessoa que prepara os mortos para o velório e a cremação, através de gestos respeitosos e precisos, diante dos familiares. Profissionalismo e poesia apresentados no filme A Partida. A forma de viver remete ao trabalho.

Para empunhar a mais letal dentre as armas medievais, o arco longo inglês, os ensinamentos começavam ainda criança; uma lei determinava que cada homem, da região de Gales, entre 16 e 60 anos, tivesse seu próprio arco. Um arqueiro recebia pagamento 150% superior a um trabalhador qualificado.

A história do trabalho é a própria história do ser humano, retratando nas interações e nas ocupações a atribuição de valor. Cada passo edifica a obra pessoal. Em tempos de sociedade escravagista, os escravos eram propriedade de seus donos, como objetos. Na alta Idade Média imperava a servidão. Não muito distante da escravidão, observando-se que os camponeses “ofereciam” parte significativa do fruto do seu trabalho, em troca da proteção do senhor feudal. Na antiga Roma, a classe servil era tão vasta que havia músicos, poetas e até filósofos escravos. Quanto antagonismo, considerando que, em outras épocas, na Europa, riqueza e ócio eram premissa para obter cultura.

O reconhecimento do mérito do outro é benção tripla. O valor atribuído ao labor humano confunde-se com o valor ponderado ao próprio ser humano. O trabalho artesanal já foi capaz de suprir as demandas nas comunidades. A partir do advento da cultura mecanicista, passando a fazer parte de nossas vidas, irremediavelmente, as máquinas, também o homem começa a ser visto sob a ótica da administração científica. O estudo de tempos e movimentos determinando ao corpo a forma ideal de atuação. Homem não é máquina, mas para fazer frente à tamanha demanda de consumo, coube à indústria automotiva, através de Henry Ford, a invenção da linha de montagem, obtendo a produção em larga escala. A produção criou o consumo? O caminho da vida é ação de trabalho. A pergunta permeia a humanidade: a quem o trabalho serve? Na visão antroposófica, a atuação profissional remete à evolução e ao desenvolvimento pessoal, colocando-se a serviço da coletividade. A alma leva em si a construção que eterniza.

Com a globalização dos negócios e ao mesmo tempo a necessidade de uma estratégia de logística, os Campos Gerais despontam com localização privilegiada e diversificada atividade industrial e de serviços. As mãos só podem abençoar, dom da vida a revelar. Fonte primordial faz aliança com o trabalho humano. A pergunta permanece, a quem o trabalho serve?

 

Renata é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais e da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes.

 

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