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Pilha: um produto do bem ou do mal?

 

Thiago Sequinel

Doutor em Química pela UNESP

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Luigi Galvani dissecou uma rã em uma superfície em que se encontrava uma máquina eletrostática e, em 1791, publicou um artigo descrevendo que o contato de dois metais diferentes com a rã dissecada fazia os músculos da coxa do animal sofrerem contrações. Essa foi a “teoria da eletricidade animal”. A rã armazenava energia e os metais eram apenas os condutores.

 Descrente desta teoria, Alessandro Giuseppe Antônio Anastásio Volta repetiu os experimentos utilizando vários metais diferentes. Na combinação desses metais, percebeu que, quando os fios eram do mesmo metal, as contrações não apareciam. Concluiu que não havia passagem de eletricidade. Os metais geravam eletricidade e a rã era o meio de condução da corrente.

Alessandro Volta (1800) criou a primeira pilha conhecida como pilha de Volta, pilha voltaica ou pilha galvânica. Formada por discos intercalados de dois metais diferentes (zinco e prata) e separados por discos de papelão embebidos em uma solução salina possuíam as extremidades ligadas com um fio condutor externo.

Porém, há mais de dois mil anos havia relatos que os iranianos colocavam pequenos tarugos de cobre junto a um bastão de ferro em jarros de argila. Despejavam ácidos nesse sistema, tais como suco de limão ou vinagre. Pilhas são sistemas que utilizam das reações químicas para movimentar os elétrons em um circuito fechado por meio do processo de oxidação e redução (perda e ganho de elétrons nas substâncias) das reações químicas. Já as baterias são uma série de duas ou mais pilhas.

John Frederic Daniell (1836) revolucionou com a criação da pilha de Daniell. Uma folha de zinco imersa em sulfato de zinco dentro de um frasco de barro poroso. Esse frasco era imerso em um pote de cobre com solução de sulfato de cobre. A vida útil terminava quando o cobre preenchia os poros da vasilha. Foi utilizada até 1960.

William Robert Grove (1844) iniciou experimentos para investigar a energia produzida pelas reações químicas envolvidas com uma pilha galvânica com eletrodos em contato com oxigênio e hidrogênio e mais tarde, demonstrou a primeira pilha a combustível, semelhante à pilha de ácido fosfórico dos dias atuais

Gaston Planté (1859) criou a primeira pilha recarregável. Formada por placa de óxido de chumbo e outra de chumbo metálico imersas em ácido sulfúrico, que produz sulfato de chumbo. Esse sistema pesado é utilizado em baterias de carro, nobreaks e iluminações de emergência.

Monsieur Callaud (1860) criou a pilha de gravidade. Uma peça de cobre colocada no fundo de uma jarra de zinco e suspensa abaixo da borda. Espalhavam-se cristais de sulfato de cobre em volta da peça de cobre e a jarra era preenchida com água destilada. Foi uma melhoria da pilha de Daniell.

Georges Leclanché (1866) criou em um cilindro de zinco envolvido por papel poroso, impregnado de manganês em pó e imersos em uma solução de cloreto de amônio e zinco. A pilha de Leclanché foi a precursora da pilha seca.

Carl Gassner (1886) desenvolveu a primeira bateria seca. Uma mistura de cloreto de amônio com gesso criando uma pasta junto do cloreto de zinco.

Waldemar Jungner (1899) conseguiu agrupar uma placa positiva e outra negativa no mesmo recipiente. A placa negativa composta de cádmio metálico e a positiva coberta de hidróxido de níquel, ambas envoltas por uma solução de hidróxido de potássio ficou conhecida como pilha de níquel-cádmio e é a primeira pilha alcalina, utilizada até hoje.

Finalmente, Manley Stanley Whittingham (1970) criou um dispositivo de placa positiva de alumínio contendo óxidos de cobalto e lítio e uma negativa de cobre contendo carbeto de lítio. Essas placas separadas por uma folha porosa plástica embebida por solução de sais de lítio são enroladas em cilindros ou prismas. São as atuais pilhas e baterias de íon lítio.

Não há dúvida que essas invenções mudaram e facilitaram nosso cotidiano, porém, com elas, temos também seríssimos perigos que, para a maioria das pessoas, são ocultos.

Por outro lado, entre as nacionalidades dos inventores citados temos, dentre eles, vários franceses e um alemão. Parece ironia ao discurso ecológico atual!

Mas, voltamos ao assunto. Nas pilhas encontramos os elementos químicos cádmio, mercúrio e chumbo que interferem diretamente no sistema nervoso central, nos pulmões, rins e fígado. Uma vez dentro do organismo, permanecerão lá. O cádmio é cancerígeno, o chumbo pode provocar anemia, debilidade e paralisia parcial, e o mercúrio pode causar o envenenamento crônico, que, dependendo da quantidade, leva ao óbito em poucas semanas. Tem ainda manganês, cobre, níquel, lítio, cromo e zinco.

Com o descarte em lixões ou aterros sanitários todos esses componentes tóxicos são liberados contaminando o solo, os cursos d’água e os lençóis freáticos.

A natureza é sábia e implacável: o preço da falta de consciência chega rápido! Pior que isso, reverte para todos e para nossas futuras gerações.

Por isso, encaminhe as pilhas utilizadas aos postos de coleta e procure utilizar os produtos recarregáveis. Aqui o barato sai muito caro!

 

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