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Quantos pesos e quantas medidas na mesma balança?

Helcio Kovaleski

No último dia 17, o vereador Pietro Arnaud (PTB), vice-presidente da Câmara Municipal de Ponta Grossa, autor do Projeto de Lei 23/2015, que trata da modernização do transporte coletivo urbano na cidade, postou a seguinte mensagem em seu perfil na rede social Facebook: De acordo com a lei e o contrato do transporte público, a VCG recebe 5% de lucro sobre o valor da despesa sobre o custo final da tarifa. Com a tarifa atual de R$ 2,85 o faturamento da concessionária é de aproximadamente R$ 325 mil mensais. Havendo redução nos custos da planilha com pessoal como prevê o projeto, esse lucro também será proporcionalmente menor. Utilizando o exemplo anterior, se imaginássemos que 100% dos trocadores não estivessem mais nos ônibus a tarifa baixaria para R$ 2,46 o faturamento da VCG seria de R$ 276 mil mensais. Ou seja, não sou eu quem está querendo manter ou aumentar os benefícios da VCG…Pense nisso!.

O que o vereador propõe nesse texto é a demissão de 100% dos trocadores da Viação Campos Gerais (VCG), não é? Porque, para se chegar a uma diminuição de R$ 49 mil (diferença entre R$ 325 mil e R$ 276 mil) no lucro da empresa (os tais 5%), terá de haver demissão, não? É isso? Mas e aquele eufemismo chamado agentes de bordo, em forma de substitutivo, proposto outro dia pelo próprio Pietro e pelos vereadores Luiz Bertoldo (PRB) e Romualdo Camargo (PSDC)? Os trocadores, nesse novo formato, continuarão trabalhando, então, segundo o que ele propõe no texto postado no Facebook? Mas, se isso acontecer, não haverá essa diminuição do lucro da empresa, porque não haverá demissão, certo? Porém, se eles forem mantidos na empresa, esta contabilizará prejuízo em dobro, porque terá de arcar com os custos trabalhistas desses agentes de bordo sem tirar nada do valor arrecadado com as passagens (que será menor em R$ 49 mil)? É isso? Se for, então não será possível diminuir o preço da passagem de ônibus, não é? A VCG aceitará de bom grado essa diminuição em seu lucro mensal? Isso está combinado com a empresa?

Há pelo menos 30 anos, acompanha-se com muita apreensão a intensificação do processo de desenvolvimento, principalmente tecnológico, como vistas à maior produção das empresas e, consequentemente, mais lucro. É um processo inevitável, mas que também tem seu (alto) preço. O maior deles é social, porque, no lugar de muita gente trabalhando, a tendência é um chip, um programa de computador, ou uma tecla de enter, fazer a mesma coisa, e o desemprego (às vezes, em massa) torna-se inevitável. Ou as pessoas, depois de demitidas, adaptam-se a outros tipos de trabalho, ou se aposentam, ou entram em depressão. Ao mesmo tempo, percebe-se que isso faz parte do jogo, geralmente perverso, mas é promovido, na imensa maioria das vezes, pelas próprias empresas em um contexto de modernização.

Diante desse cenário, é compreensível que alguma mudança deva acontecer no transporte coletivo urbano ponta-grossense. É de conhecimento até mesmo do mundo geológico do Parque Vila Velha (apud Mino Carta) que o setor carece de amplas melhorias e da extirpação de alguns vícios crônicos, ocasionados em grande parte pela manutenção do monopólio na concessão desse serviço.

Mas, pergunto: justamente pelos altos custos sociais e trabalhistas que esse processo pode acarretar, haja vista que, se a proposta é a de não demitir os atuais trocadores, uma vez que serão transformados em agentes de bordo, a aprovação desse projeto também não estancaria a possibilidade de novas contratações? Isso não é bom, correto? Logo, não seria o caso de deixar para que a própria VCG puxasse isso – já que é a ela que isso toca, em primeiro lugar?

Meu caro Pietro. Você, como vereador, não acha mais justo lutar pela manutenção de postos de trabalho – mesmo que o seu projeto tenha a intenção benéfica de diminuir o preço da passagem a toda a população e, de resto, modernizar o sistema? É claro que isso é importante, não há dúvida, mas ao custo de fechar uma oportunidade de novos postos de trabalho? Quantos pesos e quantas medidas estão nessa balança?

Por fim: não é um contrassenso um projeto desse ser proposto por alguém filiado a um partido que leva a palavra trabalhista no nome?

O autor é jornalista.

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