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Usina do Conhecimento

Arquivo DC

Na Usina do conhecimento foram promovidas diversas atividades culturais

É preciso criar para transformar, ou a transformação cinzela a criação? Na mão do artista as cores ganham vida, o som orquestra-se em melodia, as palavras tecem em forma de poesia. Na metamorfose da concepção tudo é matéria-prima para a inspiração.

As águas represadas, em fluxo caudaloso, passam pelas turbinas que convertem a energia potencial em cinética. A partir de um gerador, transformam-se em energia elétrica. Uma trama fluídica de fios, redes e pontos de distribuição que alimentam das maiores metrópoles às menores comunidades. As usinas hidrelétricas, tão abundantes no Brasil quanto as próprias águas, bombeando energia ao coração das cidades.

Pelas rodovias, alegóricas na paisagem, circulam frondosas cargas especiais transportando pás para as usinas eólicas. Quem diria que a força dos ventos, quando se esparge abundantemente, é capaz de mover turbinas e se converter em energia elétrica. Cataventos gigantes, coisa de gente grande, que espetam nos campos com a mesma graça que a criança sopra no papel.

Restos de madeira, sobras de óleo combustível, tudo que pode se oferecer à queima e gerar vapor através das caldeiras, acionando as pás da turbina que converte em energia elétrica. As fogosas termelétricas não poupam fôlego na ardência metabólica que tudo transforma. Energia que vem do calor, a favor de inflar a chama da vontade que se consome em ação humana.

Nos idos de 1996, o governo do Paraná, em parceria com a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, criou a Usina do Conhecimento, local destinado a fomentar as artes, a cultura, a saúde e a integração entre alunos, professores e comunidade. Foram oferecidas e realizadas oficinas de teatro, de confecção de fantoches, de brochuras e de poesia, cursos de pintura em tela, desenhos, aulas de violão, dança, balé. Palestras sobre leitura e cidadania, energias alternativas, mostras de fotos e concursos de contos. Um amplo portfólio cultural capaz de propulsionar turbinas mentais e gerar energia cultural de compreensão e de habilidades, produzindo o mais puro conhecimento. Força motriz que alavancava conceitos e consciências.

A cabeça teme em pensar, no reator da usina nuclear um susto que persiste em intimidar, se da fissão os efeitos vierem a vazar para fora da área da reação e da razão. Algumas descobertas humanas parecem insanas, ainda assim um instante para reagrupar ideias e, a exemplo do átomo, buscar a compreensão sobre o que faz desestabilizar. Força nuclear, tão incisiva quando o perigo da mente também se desagregar.

Nossa usina do conhecimento acabou perdendo sua força de geração e cedendo à estagnação e à inércia. Um gosto de nostalgia vai pela melodia que não se deixa mais cantar. Nas paredes pichadas outros ensejos fizeram morada. O conhecimento ficou para o era uma vez, na próxima história a ser contada. Cessou o movimento das turbinas, gerador que cala onde o conhecimento advinha. Poderia o sol curar? Em placas de uma nova usina, vida que se espalha em raios a fortificar.

 

*Renata é escritora, integrante da Academia de Letras dos Campos Gerais, da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes e do Centro Cultural Prof. Faris Michaele.

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